segunda-feira, 3 de outubro de 2011

A PREGAÇAO FUNDAMENTAL

Um aprendiz de Nosso Senhor Jesus Cristo entusiasmou-se com os ensinamentos do Evangelho e decidiu propagá-los, enquanto vivesse. Leu, atencioso, as lições do Mestre e começou a comentá-las por toda parte, gastando dias e noites nesse mister.

Chegou, porém, o momento em que precisou pagar as próprias despesas e foi compelido a trabalhar.

Empregou-se sob as ordens de um orienta­dor que lhe não agradou. Esse diretor de serviço achava-se muito distante da fé e, por isto, con­trariava-lhe as tendências religiosas. Controla­va-lhe as horas com rigor e observava-o com apontamentos acrimoniosos e rudes.

O pregador do Crucificado não mais se mo­vimentava com a liberdade de outro tempo. Era obrigado a consagrar largos dias a trabalhos di­fíceis que lhe consumiam todas as forças. Prosseguia, ensinando a boa doutrina, quanto lhe era possível; porém, não mais podia agir e falar, como queria ou quando pretendia. Tinha os mi­nutos contados, as oportunidades divididas, as semanas tabeladas e, porque se julgasse vítima das ordenações de sua chefia, procurou o diretor do serviço e despediu-se.

O proprietário que o empregara indagou do motivo que o levava a semelhante resolução.

Um tanto irônico, o rapaz explicou-se:

– Quero ser livre para melhor servir a Jesus. Não posso, pois, aceitar o cativeiro de sua casa.

Nesse dia de folga absoluta, sentiu-se tão independente e tão satisfeito que discorreu, animadamente, sobre a doutrina cristã, até depois de meia-noite, em várias casas religiosas.

Repousando, feliz, alta madrugada sonhou que o Mestre vinha encontrá-lo. Reparou-lhe a beleza celeste e ajoelhou-se para beijar-lhe a túnica resplandecente.

Jesus, porém, estampava na fisionomia dolo­rosa e indisfarçável tristeza.

O discípulo inquietou-se e interrogou:

– Senhor, porque te sentes amargurado?

O Cristo, respondeu, melancôlicamente:

– Por que desprezaste, meu filho, a prega­ção que te confiei?

– Como assim, Senhor? – replicou o jo­vem – ainda hoje abandonei um homem tirânico para melhor ensinar a tua palavra. Tenho dis­cursado em vários templos e comentado a Boa-Nova por onde passo.

– Sim – exclamou o Mestre – , esta é a pregação que me ofereces e que desejo continues fervorosamente; todavia, confiei ao teu espírito a pregação fundamental da verdade a um homem que administra os meus interesses na Terra e não soubeste executá-la. Classificaste-o de igno­rante e cruel; entretanto, olvidas que ele ignora o que sabes. E pretendes, acaso, desconhecer que o orientador humano que te dei somente poderia abordar-me os ensinos, nesta hora, atra­vés de teu exemplo? Tua humildade construtiva, no espírito de serviço, modificar-lhe-ia o cora­ção... Se lhe desses cinco anos consecutivos de demonstrações evangélicas, estaria preparado a caminhar, por si mesmo, na direção do Reino Divino!... E ele, que determina sobre o tempo de duzentos homens, se faria melhor, mais hu­mano e mais nobre, sem prejuízo da energia e da eficiência... Poderás ensinar o caminho ce­lestial a cem mil ouvidos, mas a pregação do exemplo, que converta um só coração ao Infinito Bem, estabelece com mais presteza a redenção do mundo!...

O aprendiz desejou perguntar alguma coisa; entretanto, o Cristo afastou-se num turbilhão de luminosa neblina.

Acordou, sobressaltado, e não mais dormiu naquela noite.

De manhã, pôs-se a caminho do estabeleci­mento em que trabalhara, procurou o diretor de quem se despedira e pediu humildemente:

– Senhor, rogo-lhe desculpas pelo meu ges­to impensado e, caso seja possível, readmita-me nesta casa! aceitarei qualquer gênero de tarefa.

O chefe, admirado, indagou:

– Quem te induziu a esta modificação?

– Foi Jesus – respondeu o rapaz – ; não podemos servi-lo por intermédio da indisciplina ou do orgulho pessoal.

O diretor concordou sem vacilação, excla­mando:

– Entre! Estamos ao seu dispor.

Anotou a boa vontade e o sincero desejo de servir de que o empregado dava agora vivo testemunho e passou a refletir na grandeza da doutrina que assim orientava os passos de um homem no aperfeiçoamento moral. E o aprendiz do Evangelho que retomou o trabalho comum, intensamente feliz, compreendeu, afinal, que po­deria prosseguir na propaganda verbal que dese­java e na pregação básica do exemplo que Jesus esperava dele.


Página psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier,
cap. 28 do livro Alvorada Cristã.
Neio Lúcio consolador

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