A vida moderna nos faz joguetes dos interesses mais espúrios, além de nos isolar cada vez mais uns dos outros, cercados de medos e artificialidades. Por causa do egoísmo não conseguimos sondar a dor humana no seu reduto mais íntimo: a alma. Amoldamo-nos a um gênero de vida quase que exclusivamente voltado para as necessidades práticas e imediatas, em que não se olha ao redor, em que não se cultiva o sentimento. A alma está esquecida.
O jogo da ambição, alimentado pelas falsas ideias sobre a vida, tem mantido inalterados ao longo do tempo os interesses egoístas da maior parte dos homens. Os valores éticos são ignorados, nas grandes como nas pequenas coisas.
A vida moderna nos tem garantido conforto e facilidades em grande escala. Bens e serviços ao alcance da maioria. Nossos trajetos são traçados pelo hábito e nos levam sempre às fileiras de vitrines, onde nos deixamos seduzir pelos últimos lançamentos, pelas armadilhas da psicologia de propaganda. Ostentamos trajes cujas logomarcas conhecidas correm o mundo. Depois do shopping voltamos para casa com a consciência leve, convictos de termos feito lazer.
Celulares ultramodernos (cada vez menores), telas ultrafinas (cada vez maiores), e outras tantas crias eletrônicas nos conectam com o mundo. Em meio a milhares de contatos virtuais, não temos sabido lidar com a solidão.
Nossa silhueta - nunca ideal - é mantida sofregamente nas academias, sob sugestão de quem pouco entende de gente, mais de estilo! Negamos o preconceito, embora nossa conduta mostre o contrário.
Desviamos os olhos da miséria, mesmo assim simulamos virtudes. Aliamo-nos por interesse aos bem sucedidos.
Para alívio da nossa consciência, falamos da solidariedade, das desigualdades, das injustiças sociais, no entanto, fazemos caridade sem sacrifício. Depositamos donativos esporádicos, via fone. Lamentamos as catástrofes. Sentimos muito...
O que sabemos das dificuldades alheias? Conhecemos as nossas: estamos entediados, com sintomas depressivos, precisando de vitaminas e umas boas férias!...
Todavia, apesar do caos sócio-moral instalado no mundo, o certo é que todos têm em si os germes dos sentimentos positivos, prontos a serem desenvolvidos, só que a maioria das pessoas não sabe disso. Nesse sentido, no âmbito das instituições, será preciso desenvolver um trabalho sério e contínuo de esclarecimento, de informação, de educação das massas para reverter esse quadro.
No plano individual, isso se fará no dia a dia, no corpo a corpo, seguindo-se duas regras morais, apenas: “Amai o próximo como a si mesmo” e “Não façais aos outros, o que não quereis que vos façam”. A vivência dessas ideias vigorosas nos projetará para um futuro grandioso, além da vida material, a começar mesmo de agora, na medida em que formos colhendo os resultados da sua aplicação. Já temos condições, hoje, de desejar esse futuro melhor para nós.
O progresso gerou maturação, a dor tem aberto caminhos para a reflexão, as reivindicações do Espírito se impuseram e a ciência se ajoelha, inclinada a aceitá-las. Já nos refestelamos o suficiente na matéria e vimos como é. Conhecemos os seus limites e sabemos que a partir daí não há mais ganhos, só perdas.
Se já existem elementos para a importante e decisiva transformação para melhor, compete a cada um de nós saber detalh es de como iniciá-la, urgentemente.
CLÁUDIO BUENO DA SILVA
Revista O Consolador