As sensações que precedem e se seguem à morte são infinitamente variadas e dependentes sobretudo do caráter, dos méritos, da elevação moral do Espírito que abandona a Terra.
A separação é quase sempre lenta e o desprendimento da alma opera-se gradualmente.
Começa, algumas vezes, muito tempo antes da morte, e se completa quando ficam rotos os últimos laços fluídicos que unem o perispírito ao corpo. A impressão sentida pela alma revela-se penosa e prolongada quando esse laços são mais fortes e numerosos. Causa permanente da sensação e da vida, a alma experimenta todas as comoções, todos os despedaçamentos do corpo material.
Dolorosa, cheia de angústias para uns, a morte não é, para outros, senão um sono agradável seguido de um despertar silencioso. O desprendimento é fácil para aquele que previamente se desligou das coisas deste mundo, para aquele que aspira aos bens espirituais e que cumpriu os seus deveres. Há, ao contrário, luta, agonia prolongada no Espírito preso à Terra, que só conheceu os gozos materiais e deixou de preparar-se para esta viagem.
Entretanto, em todos os casos, a separação da alma e do corpo é seguido de um tempo de perturbação, curto para o Espírito justo e bom, que desde cedo despertou ante todos os esplendores da vida celeste; muito longo, a ponto de abranger anos inteiros, para as almas culpadas, impregnadas de fluidos grosseiros. Grande números destas últimas crê permanecer na vida corpórea, muito tempo mesmo depois da morte. Para estas, o perispirito é um segundo corpo carnal, submetido aos mesmos hábitos e, algumas vezes, as mesmas sensações físicas como durante a vida terrena.
A hora da separação é cruel para o Espírito que só acredita no nada. Agarra-se como desesperado a esta vida que lhe foge. Os Espíritos inferiores levam consigo para o além do túmulo os hábitos, as necessidades, as preocupações materiais. Não podendo elevar-se acima da atmosfera terrestre, voltam a compartilhar a vida dos entes humanos, intrometem-se nas suas lutas, trabalhos e prazeres. Suas paixões, seus desejos, sempre vivazes e aguçados pelo permanente contacto da humanidade, os acabrunham; a impossibilidade de os satisfazerem torna-se para eles causa de constantes torturas.
Pacífica, resignada, alegre mesmo, é a morte do justo, a partida da alma que, tendo muito lutado e sofrido, deixa a Terra confiante no futuro. Para esta, a morte é a libertação, o fim das provas. Os laços enfraquecidos que ligam à matéria, destacam-se docemente; sua perturbação não passa de leve entorpecimento, algo semelhante ao sono.
Texto extraído do livro “Depois da Morte” – Léon Denis – Ed FEB