Uma vida espírita preenchida de atividades vinculadas à prática numa instituição espírita não é garantia de uma vida produtiva nem feliz. A militância num determinado campo da vida não significa plenitude, mesmo em se tratando do serviço a favor do próximo. Cuidar do outro requer cuidar de si mesmo, alimentando a própria alma com ricas experiências comuns da vida humana.
As limitações impostas pelos vínculos religiosos devem ser percebidas e avaliadas pelo praticante espírita.
A consciência coletiva de um grupo religioso pode ser limitante à criatividade e ao crescimento pessoal. Da mesma forma, submeter-se a líderes carismáticos, que atendem a anseios coletivos, não atentos à individualidade de cada ser humano, também pode ser um outro fator limitador.
Adotar o Espiritismo como religião não deve significar a obrigatoriedade de uma militância ou de trabalhar num Centro Espírita, mas a aquisição da consciência da realidade espiritual e da condição pessoal de ser um espírito em evolução. Quando uma pessoa se diz espírita, é comum se perguntar qual a instituição que ela frequenta. Isso cria a falsa impressão de que os espíritas vivem e devem estar vinculados a um Centro Espírita.
O Espiritismo não é apenas aquilo que se pratica num Centro Espírita. Seus ensinamentos promovem, quando apreendidos de forma séria e madura, um novo olhar do indivíduo a respeito de si mesmo, do mundo e da Vida. Isso
não significa uma alienação da vida material, mas um melhor aproveitamento das experiências nela vividas.
A vida, com o olhar promovido pela integração dos conteúdos da Doutrina Espírita, torna-se mais suave, mais amena e, de alguma forma, mais leve. A vida no corpo deixa de ser penosa experiência para aqueles que sofrem, para se tornar um breve período de aprendizado. Isso não decorre da aceitação simples de dogmas ou da crença de que suas boas ações serão premiadas no Além, mas pela consciência plena da responsabilidade pessoal pelo próprio destino, inserida no conhecimento espírita.
Uma vida plena, com trabalho, lazer, dedicação à família, respeito aos mais velhos, cuidados com o meio ambiente, participação política, prosperidade material, conhecimento intelectual, compaixão para com o outro, alegria, dentre outras características pertinentes à vida sadia, correspondem aos objetivos da vida humana, segundo o Espiritismo.
Eliminar o medo do futuro e do desconhecido, tornar a pessoa autoconsciente de sua determinação divina, promover a paz interior, viver de forma alegre e saudável, são propostas do Espiritismo que, quando bem compreendido, favorecem a plenitude no viver.
Ser espírita não significa apenas adotar uma postura cordata diante da vida, acomodando-se a pequenas conquistas, muito embora importantes, no campo da educação doméstica. A insatisfação quanto à injustiça, a ignorância e a miséria humanas devem permanecer na consciência de todos que adentrem o Espiritismo. O processo de transformação assinalado pelo Espiritismo como fundamental a todo espírita, inclui, além de seu próprio mundo interno, sua participação na construção de uma sociedade mais equilibrada e harmônica.
Não basta ele sozinho se transformar interiormente, sem uma efetiva participação nas mudanças que a sociedade requer. Sua consciência de cidadão, pertencente ao mundo, deve alertá-lo quanto ao seu papel social.
Uma religião que aliene o ser humano de seu mundo, excluindo-o de sua efetiva participação nas transformações necessárias, contribui para sua sonegação da solidariedade.
O espírita é alguém lúcido, consciente de suas responsabilidades e agente permanente da melhoria do meio em que vive, tanto quanto de si mesmo.
Sua luta é a favor da paz, do esclarecimento e da iluminação das pessoas à sua volta, como parte do processo em que ele próprio se transforma.
Sua compreensão a respeito do sentido e significado da vida, considerando sua estadia no corpo como passagem temporária, se amplia, tornando-o responsável indireto pelo destino pessoal e coletivo.
Mito pessoal e destino Humano
Adenáuer Novaes