Aversão as comunicações com os mortos
Baseando-se nas manifestações mediúnicas e em toda a gama dos fenômenos hoje chamados paranormais, o Espiritismo despertou simpatias e provocou aversões nos meios científicos e culturais da Europa, na segunda metade do século XIX. De um lado, ele agradava o povo, que se interessava naturalmente pelas manifestações de seus mortos queridos. Por outro lado, irritava os cientistas e homens de cultura, que repudiavam as superstições populares e não viam como os mortos poderiam se manifestar, se já estavam mortos. Brofério chegou a propor a criação de um Espiritismos sem Espíritos, pois reconhecia a realidade dos fenômenos mas recusava-se a aceitar a interpretação de Kardec.
As Ciências temiam a morte e os espíritos, estavam carregadas de misticismo religioso, sob ameaças clericais, e problemas dessa espécie se tornavam perigosamente melindrosos. O que Kardec fazia era uma temeridade que poderia levá-lo à loucura.
Esse mesmo ambiente carregado de ameaças excitava ainda mais a curiosidade popular, podendo desencadear represálias de parte dos poderes eclesiásticos, ainda muito vigilantes. A serenidade com que Kardec enfrentou esse ambiente pode ser apreciada na Revista Espírita, obra indispensável ao estudo da doutrina. O terror da morte e dos mortos, provindo das mais remotas civilizações, e a introjeção desse terror europeu, perdura até hoje em nossa cultura e responde pela maior parte das aversões ao Espiritismo.
O fundamental da doutrina é a mensagem dos "mortos"
A importância das comunicações mediúnicas não está apenas no seu caráter probante, como acentuou Bozzano,mas também e sobretudo na sua expressão de solidariedade humana através da morte. O fundamental da doutrina é a mensagem dos mortos, que através dela provam a continuidade do ser em outras dimensões da matéria e desvendam o segredo doloroso dos túmulos, das lápides frias que esmagaram para sempre vidas preciosas e sonhos de beleza eterna.
Além disso, a mensagem dos mortos restabelece a unidade humana rompida pela divisão dos homens em dois planos antagônicos, o dos que vivem uma vida efêmera esperando a morte e o dos que morreram e se transformaram em cinzas para sempre.
A Cura das obsessões
Sem os estudos e pesquisas de Kardec sobre as comunicações mediúnicas, as terríveis ocorrências de obsessões vingativas, de perturbações psíquicas incuráveis pelos recursos da psicoterapia insciente, continuariam insolúveis, pois sem a técnica da doutrinação espírita, amorosa e eficaz, só restariam as práticas arcaicas dos exorcismos antiquados e perigosos, pois desprovidos do conhecimento indispensável das relações dos homens com os espíritos.
Espiritismo sem Espíritos
No próprio meio espírita surgem os resíduos da aversão milenar aos mortos e aos fantasmas, levando criaturas ingênuas e inscientes a fazerem campanhas contra as práticas mediúnicas, no insensato desejo de transformar as instituições doutrinárias em simples escolas teóricas, desprovidas da didática objetiva das práticas mediúnicas.É a volta obsessiva das pretensões acadêmicas de um Espiritismo sem Espíritos.
Essas tentativas se tornam perigosas numa fase de transição.
Sem as relações constantes com o mundo espiritual, através das sessões mediúnicas, estaremos desprovidos da orientação segura dos Espíritos benevolentes e do Espírito da Verdade, que trouxe ao nosso mundo a Doutrina Espírita, a grande doutrina cósmica de que recebemos até agora apenas a dosagem adequada ao nosso estágio atual de evolução.
Quando se extinguiu, no Cristianismo primitivo, o chamado culto pneumático, constituído pelas reuniões mediúnicas da era apostólica, as influências romanas tomaram o lugar das intuições espirituais e a Igreja de Cristo, não fundada pelo Senhor, mas pelos seus discípulos, isolou-se orgulhosamente em seu reino terreno e identificou-se com as religiões mitológicas, idólatras e formalistas. Apagou-se a luz dos santuários ingênuos ante o esplendor fictício do Império arrogante dos Césares.
Apenas comunicações de Espíritos Elevados
Se quisermos suprimir as sessões mediúnicas, particularmente as de doutrinação, em nossas instituições espíritas.
Cada posição ou atitude que tomamos tem o seu preço na economia divina e esse preço não é pago em moedas de César, mas em moedas de amor e justiça.
Muitos espíritas atuais reclamam trabalhos elevados no campo doutrinário, em que manifestações de entidades sofredoras sejam substituídas pelas manifestações de Espíritos Superiores, dotados de sabedoria e grandeza. É justa essa aspiração, desde que paguemos o seu preço com a atenção e o amor devidos aos milhões de entidades sofredoras e angustiadas que esperam o nosso amparo amigo e as moedas de ouro puro e sacrificial do nosso amor. Sem isso, só teremos nas sessões especiais a presença de entidades mistificadoras que nos conduzirão a atitudes vaidosas e ridículas.
Temos tudo em nossas mãos e podemos escolher livremente o melhor ou pior. Porque somos aprendizes para nos tornarmos livres das provações e expiações do nosso planeta.
Deus não nos força, porque só aprendemos fazendo. Temos a doutrina em nossas mãos para esse aprendizado e a liberdade de estudá-la ou não. É bom não esquecermos que a nossa liberdade espiritual só tem como guarda o freio da nossa própria consciência.
Jesus não impediu que Judas o traísse e que Pedro o negasse, nem que Tomé duvidasse da sua ressurreição. Os processos espirituais de educação se fundem no exercício da liberdade de cada um, porque somente através de um sistema de livre escolha, entre experiências negativas e positivas,podemos aprender a seguir voluntariamente os rumos certos da nossa destinação.
Evolução Espiritual do Homem
J.Herculano Pires