A segunda obra que integra o chamado Pentateuco Kardequiano, que Allan Kardec lançou em Paris no ano de 1861, a qual será aqui apresentada na forma de 175 questões objetivas.
Depois de haver exposto em “O Livro dos Espíritos” a parte filosófica da ciência espírita, Allan Kardec cuidou em “O Livro dos Médiuns” da parte prática da referida ciência, com vistas aos que querem ocupar-se das manifestações, seja por si mesmos, seja para se darem conta dos fenômenos que foram chamados a observar.
Na obra em apreço, ver-se-ão os escolhos que médiuns e experimentadores podem encontrar e o meio de evitá-los.
As duas obras, conquanto seja continuação uma da outra, são até certo ponto independentes; mas, aos que quiserem ocupar-se seriamente do assunto, o Codificador recomenda ler primeiro O Livro dos Espíritos, porque contém os principais fundamentos, sem os quais algumas partes d´O Livro dos Médiuns serão talvez dificilmente compreendidas. (L.M., Introdução.)
Questões objetivas
1. Os progressos do Espiritismo aconteceram a partir de que momento?
O Espiritismo fez grandes progressos desde alguns anos, mas os fez sobretudo imensos logo que entrou no caminho filosófico, porque foi apreciado por pessoas esclarecidas. Hoje ele não é mais um espetáculo; é uma doutrina da qual não se riem mais os que zombaram das mesas girantes. Ao esforçarmo-nos por conduzi-lo e mantê-lo neste terreno, temos a convicção de lhe conquistar mais partidários úteis do que provocando a torto e a direito manifestações das quais se poderiam abusar. Disso temos todos os dias a prova pelo número de adeptos conseguidos pela simples leitura do Livro dos Espíritos. (L.M, Introdução.)
2. Para falar a alguém sobre Espiritismo é preciso primeiro uma base. Que base é essa?
Antes de entabularmos qualquer discussão espírita, importa-nos que averiguemos se o interlocutor admite a existência da alma e a de Deus. Essa é a base de todo o edifício. Se ele responde negativamente ou com evasivas ("Não sei; eu queria que fosse assim, mas não estou certo") às perguntas: Crês em Deus? Crês ter uma alma? Crês na sobrevivência da alma depois da morte?, seria totalmente inútil ir além, porque tal intento seria o mesmo que demonstrar as propriedades da luz a um cego. Ora, as manifestações espíritas não são outra coisa senão os efeitos da propriedades da alma. Se o indivíduo não admite a existência desta, estaremos perdendo tempo, a não ser que usemos uma outra ordem de idéias. (L.M., item 4.)
3. Que diz o Espiritismo acerca do sobrenatural e do maravilhoso?
Aos olhos dos que vêem a matéria como a única potência da natureza, tudo o que não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso ou sobrenatural. Para esses, maravilhoso é sinônimo de superstição e sobrenatural é o que é contrário às leis da natureza. O Espiritismo não aceita todos os fatos que são atribuídos ao maravilhoso e ao sobrenatural. Longe disso, demonstra a impossibilidade de muitos deles e o ridículo de certas crenças que são, propriamente falando, o efeito de uma superstição. Todos os fenômenos espíritas têm por princípio a existência da alma, sua sobrevivência ao corpo e suas manifestações. Esses fenômenos, fundados numa lei da natureza, não têm nada de maravilhoso nem de sobrenatural, no sentido vulgar dessas palavras. Os fatos verídicos reputados sobrenaturais só o são porque quem assim os julga não lhes conhece a causa. Determinando-lhes a causa, o Espiritismo os faz penetrar novamente no domínio dos fenômenos naturais. (L.M., itens 10, 13 e 14.)
4. Quais e quantas são as classes de espíritas?
Existem quatro classes principais:
1a) os espíritas experimentadores, que crêem pura e simplesmente nas manifestações e acham que o Espiritismo é uma simples ciência de observação;
2a) os espíritas imperfeitos, que também compreendem a parte filosófica da doutrina e admiram a moral que dela decorre, mas não a praticam. A influência do Espiritismo sobre o caráter deles é insignificante ou nula; eles não mudam nada de seus hábitos e conservam a avareza, o orgulho, a inveja ou o ciúme que os caracterizavam antes;
3a) os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos, que não se contentam com admirar a moral espírita, mas a praticam, aceitando-lhes todas as consequências. Convencidos de que a existência terrestre é uma prova passageira, trabalham por tirar proveito destes curtos instantes para caminharem pela via do progresso, esforçando-se por fazer o bem e reprimir seus maus pendores. A caridade é, em todas as coisas, a regra de sua conduta;
4a) os espíritas exaltados, que aceitam facilmente e sem reflexão tudo o que provém do plano espiritual. Exagerados em sua crença, revelam uma confiança cega e à vezes pueril nas coisas do mundo invisível. Eles são os menos indicados para convencer, porque são de muito boa fé enganados, seja por espíritos mistificadores, seja por pessoas que lhes exploram a credulidade. (L.M., item 28.)
5. Que papel incumbe ao espírita de verdade?
Ao espírita de verdade jamais faltará ocasião de fazer o bem; corações aflitos a aliviar, consolações a distribuir, desesperos a acalmar, reformas morais a operar – eis sua missão, na qual encontrará também sua verdadeira satisfação. (L.M., item 30.)
6. Para se ensinar Espiritismo, qual é o método melhor?
O melhor método do ensino espírita é dirigi-lo à razão antes de dirigi-lo à vista. É o que seguimos em nossas lições e com o qual estamos muito satisfeitos. O estudo preliminar da teoria tem uma outra vantagem que é a de mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e do alcance desta ciência; aquele que começa por ver uma mesa girar ou bater é mais levado à zombaria, porque dificilmente se persuade de que de uma mesa possa sair uma doutrina regeneradora da Humanidade. Começar pela teoria nos permite passar todos os fenômenos em revista, explicá-los, compreender-lhes a possibilidade, as condições sob as quais podem produzir-se e os obstáculos que poderão ser encontrados. Qualquer que seja a ordem sob a qual ele aparecem depois, nada terão que possa surpreender, poupando-se a quem quer trabalhar uma série de desenganos. (L.M., itens 31 e 32.)
7. Ao tempo da codificação do Espiritismo, surgiram vários sistemas de refutação à doutrina espírita. Quais são esses sistemas?
Ao todo, os sistemas criados para refutar o Espiritismo perfazem 13 títulos:
sistemas de negação, isto é, os sistemas dos adversários do Espiritismo;
sistema do charlatanismo, que atribuem os fenômenos a trapaças;
sistemas de loucura;
sistemas de alucinação;
sistema do músculo que estala;
sistema das causas físicas;
sistema do reflexo;
sistema da alma coletiva;
sistema sonambúlico;
sistema demoníaco;
sistema otimista;
sistema monospírita;
sistema da alma material.
L.M., itens 37 a 50.
(Continua no próximo número.)
Estudo sistematizado da doutrina espírita pela federação espírita