CAPÍTULO VIII
Do Laboratório do Mundo Invisível
Temos dito que os Espíritos se apresentam vestidos de túnicas, envoltos em largos panos, ou mesmo com os trajes que usavam em vida. Mas, aonde irá eles buscar vestuários semelhantes em tudo aos que traziam quando vivos, com todos os acessórios que os completavam?
Com o auxílio do princípio material que o perispírito toma a aparência de vestuários semelhantes aos que o Espírito usava quando vivo. É evidente que a palavra aparência deve ser aqui tomada no sentido de aspecto, imitação.
Sobre os elementos materiais disseminados por todos os pontos do espaço, na vossa atmosfera, tem os Espíritos um poder que estais longe de suspeitar. Podem, pois, eles concentrar à sua vontade esses elementos e dar-lhes a forma aparente que corresponda à dos objetos materiais.
10ª Pode então o Espírito dar a um objeto, não só a forma, mas também propriedades especiais?
"Se o quiser. Baseado neste princípio foi que respondi afirmativamente às perguntas anteriores. Tereis provas da poderosa ação que os Espíritos exercem sobre a matéria, ação que estais longe de suspeitar, como eu disse há pouco.
11ª Suponhamos, então, que quisesse fazer uma substância venenosa. Se uma pessoa a ingerisse, ficaria envenenada?
"Teria podido, mas não faria por não lhe ser isso permitido."
12ª Poderá fazer uma substância salutar e própria para curar uma enfermidade? E já se terá apresentado algum caso destes?
"Já, muitas vezes."
13ª Então, poderia também fazer uma substância alimentar? Suponhamos que tenha feito uma fruta, uma iguaria qualquer: se alguém pudesse comer a fruta ou a iguaria, ficaria saciado?
"Ficaria sim; mas, não procures tanto para achar o que é tão fácil de compreender. Um raio de sol basta para tornar perceptíveis aos vossos órgãos grosseiros essas partículas materiais que enchem o espaço onde viveis. Não sabes que o ar contém vapores d’água? Condensa-os e os farás voltar ao estado normal. Priva-as de calor e eis que essas moléculas impalpáveis e invisíveis se tornarão um corpo sólido e bem sólido, e assim, muito outras substâncias de que os químicos tirarão maravilhas ainda mais espantosas. Simplesmente, o Espírito dispõe de instrumentos mais perfeitos do que os vossos: à vontade e a permissão de Deus."
14ª Os objetos que, pela vontade do Espírito, se tornam tangíveis, poderiam permanecer com esse caráter e tornarem-se de uso?
"Isso poderia dar-se, mas não se faz. Está fora das leis."
15ª Têm todos os Espíritos, no mesmo grau, o poder de produzir objetos tangíveis?
"É fora de dúvida que quanto mais elevado é o Espírito, tanto mais facilmente o consegue. Porém, ainda aqui, tudo depende das circunstâncias. Desse poder também podem dispor os Espíritos inferiores."
16ª O Espírito tem sempre o conhecimento exato do modo por que compõe suas vestes, ou os objetos cuja aparência ele faz visível?
"Não; muitas vezes concorre para a formação de todas essas coisas, praticando um ato instintivo, que ele próprio não compreende se já não estiver bastante esclarecido para isso."
Modificação das propriedades da matéria
129. A teoria acima se pode resumir desta maneira: o Espírito atua sobre a matéria; da matéria cósmica universal tira os elementos de que necessite para formar, a seu bel-prazer, objetos que tenham a aparência dos diversos corpos existentes na Terra. Pode igualmente, pela ação da sua vontade, operar na matéria elementar uma transformação íntima, que lhe confira determinadas propriedades.
130. A existência de uma matéria elementar única está hoje quase geralmente admitida pela Ciência, e os Espíritos, como se acaba de ver, a confirmam. Todos os corpos da Natureza nascem dessa matéria que, pelas transformações por que passa, também produz as diversas propriedades desses mesmos corpos. Daí vem que uma substância salutar pode, por efeito de simples modificação, tornar-se venenosa, fato de que a Química nos oferece numerosos exemplos.
Ação magnética curadora
Ora, desde que ele pode operar uma modificação nas propriedades da água, pode também produzir um fenômeno análogo com os fluidos do organismo, donde o efeito curativo da ação magnética, convenientemente dirigida.
131. Esta teoria nos fornece a solução de um fato bem conhecido em magnetismo, mas inexplicado até hoje: o da mudança das propriedades da água, por obra da vontade.
Sabe-se que papel capital desempenha a vontade em todos os fenômenos do magnetismo. Porém, como se há de explicar a ação material de tão sutil agente? A vontade não é um ser, uma substância qualquer; não é, sequer, uma propriedade da matéria mais etérea que exista. A vontade é atributo essencial do Espírito, isto é, do ser pensante. Com o auxílio dessa alavanca, ele atua sobre a matéria elementar e, por uma ação consecutiva, reage sobre seus compostos, cujas propriedades íntimas vêm assim a ficar transformadas.
Tanto quanto do Espírito errante, a vontade é igualmente atributo do Espírito encarnado; daí o poder do magnetizador, poder que se sabe estar na razão direta da força de vontade. Podendo o Espírito encarnado atuar sobre a matéria elementar, pode do mesmo modo mudar-lhe as propriedades, dentro de certos limites. Assim se explica a faculdade de cura pelo contacto e pela imposição das mãos, faculdade que algumas pessoas possuem em grau mais ou menos elevado.
(Veja-se, no capítulo dos Médiuns, o parágrafo referente aos Médiuns curadores).