segunda-feira, 8 de agosto de 2011

ESPIRITISMO: MÉTODO E BOM SENSO

AS REGRAS METODOLÓGICAS DE KARDEC TÊM DE SER OBSERVADAS

Entre aquelas doutrinas espiritualistas que tudo explicam, e aquelas que tudo afirmam, o Espiritismo se apresenta como região intermediária. Não pretende dar explicações para todas as coisas, nem construir um castelo de afirmações dogmáticas.

Seu objetivo não é o proselitismo a todo custo, nem a satisfação da curiosidade ou da imaginação, e muito menos o domínio das consciências. Pelo contrário é a busca da verdade espiritual, através do bom-senso, no campo raso da observação e da experimentação. Doutrinas que tudo explicam, desde a maneira por que Deus constrói os mundos, até as minúcias da fisiologia do corpo espiritual, existiam no mundo muito antes da codificação espírita.

Doutrinas autoritárias, que tudo afirmam e tudo impõem, sob ameaças terrenas e celestes, dominaram a Terra desde os primórdios da civilização. Mas doutrinas que procuram a verdade, dentro dos limites da razão, com plena consciência das limitações humanas, só apareceram quando o homem começou a compreender-se a si mesmo.

Kardec explica, em A Gênese, com a clareza didática que caracteriza as suas obras: O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos constitutivos do Universo, toca forçosamente na maior parte das ciências; só podia aparecer, portanto, depois da elaboração delas". Noutro trecho, que como esse pertence ao primeiro capítulo do livro, diz o Codificador: "Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente como as ciências positivas, aplicando o MÉTODO EXPERIMENTAL. Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas.

Ele os observa, compara, analisa, e, remontando dos efeitos às causas, chega às leis que os regem. Depois, deduz as suas consequências e busca as suas aplicações úteis". O Espiritismo é, pois, aquilo que podemos chamar de Espiritualismo Científico, em oposição ao ESPIRITUALISMO UTÓPICO dos tempos anteriores. No plano da utopia, tudo é permitido. Pode dar-se largas à imaginação, ao sonho, ao devaneio. No plano da realidade, temos de enquadrar nossas aspirações de saber dentro dos limites do possível.

Francis Bacon já dizia, no alvorecer da nossa era científica: "Chumbo não para prendê-lo ao chão, mas para ligá-lo ao real, evitando os vôos da imaginação. Por isso mesmo quando Kardec pediu aos Espíritos uma definição de Deus, estes lhe responderam que não entrasse num labirinto, do qual não poderia sair. Muitas pessoas, atraídas pelos fenômenos espíritas, iniciam-se na Doutrina com demasiada sede de conhecimentos espirituais.

Dentro em pouco, manifestam-se de que o Espiritismo não cuide do desenvolvimento de faculdades psíquicas extraordinárias, contentando-se com o problema mediúnico, assim mesmo dentro dos limites que consideram estreitos. Pensam que o Espiritismo devia ser uma espécie de ciência do absoluto, avançando além das fronteiras da teologia, do ocultismo e coisas semelhantes. Acabam entregando-se aos devaneios de teorias várias, na ilusão de estarem mais próximas da verdade.

Não condenamos essas teorias, nem essas pessoas. Cada coisa tem o seu lugar, no quadro geral da evolução. Mas devemos explicar a nossa posição e a razão de ser atitude espírita. Os que desejarem voar, que batam livremente as asas de sua imaginação nos céus da utopia. Mas o Espiritismo não pode fazê-lo, porque a sua natureza é científica, e o lugar que lhe compete não é na região dos sonhos, mas no plano do conhecimento positivo.

E quando falamos de ciência, não é no antigo sentido filosófico, mas no moderno sentido, determinado pelo método experimental. Não é de ciência aristotélica, mas de ciência galileica. Quando compreendemos esse sentido do Espiritismo, captando a sua verdadeira significação, pomos de lado a inquietação natural que nos leva a aceitar muitas mistificações como "progressos da Doutrina". Entendemos então que a Doutrina só pode progredir dentro dos princípios metodológicos de Kardec.

Há cem anos, o Codificador estabeleceu esses princípios, que continuam válidos, porque ninguém, até agora, apresentou nada melhor. Se na sociologia, por exemplo, a metologia de Durkheim pode ser ultrapassada, foi porque a nova ciência evoluiu com rapidez. No tocante ao Espiritismo, em razão da própria complexidade do objeto, não se deu a mesma coisa. As regras metodológicas de Kardec não estão superadas e têm de ser observadas com rigor, se não quisermos voltar para trás, mergulhar novamente na fase do espiritualismo utópico.

Muitas das "novas revelações" que estão sendo aceitas no meio espírita nada mais são do que formas de retrocesso. E é por isso que temos de intensificar, como aconselha Emmanuel, o estudo sistemático das obras da Codificação, nas agremiações doutrinárias.


Maria Virginia e J. Herculano Pires
O Semeador, setembro/04.

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