quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A DOUTRINA DAS PENAS ETERNAS FEZ SUA ÉPOCA

22. - A crença na eternidade das penas prevaleceu salutarmente enquanto os homens não tiveram ao seu alcance a compreensão do poder moral.
É o que sucede com as crianças durante certo tempo contidas pela ameaça de seres quiméricos com os quais são intimidadas: -chegadas ao período do raciocínio, repelem por si mesmas essas quimeras da infância, tornando-se absurdo o querer governá-las por tais meios.
Se os que as dirigem pretendessem incutir-lhes ainda a veracidade de tais fábulas, certo decairiam da sua confiança.
É isso que se dá hoje com a Humanidade, saindo da infância e abandonando, por assim dizer, os cueiros. O homem não é mais passivo instrumento vergado à força material, nem o ente crédulo de outrora que tudo aceitava de olhos fechados.

23. - A crença é um ato de entendimento que, por isso mesmo, não pode ser imposta. Se, durante certo período da Humanidade, o dogma da eternidade das penas se manteve inofensivo e benéfico mesmo, chegou o momento de tornar-se perigoso.
Imposto como verdade absoluta, quando a razão o repele, ou o homem quer acreditar e procura uma crença mais racional, afastando-se dos que o professam, ou, então, descrê absolutamente de tudo. Quem quer que estude o assunto, calmamente, verá que, em nossos dias, o dogma da eternidade das penas tem feito mais ateus e materialistas do que todos os filósofos.
As idéias seguem um curso incessantemente progressivo, e absurdo é querer governar os homens desviando-os desse curso; pretender contê-los, retroceder ou simplesmente parar enquanto ele avança, é condenar-se, é perder-se.
Seguir ou deixar de seguir essa evolução é uma questão de vida ou de morte para as religiões como para os governos.

A Ciência e a Fé

Este fatalismo é um bem ou um mal? Para os que vivem do passado, vendo-o aniquilar-se, será um mal; mas para os que vivem pelo futuro é uma lei do Progresso, de Deus em suma.
E contra uma lei de Deus é inútil toda revolta, impossível a luta. Para que, pois, sustentar a todo o transe uma crença que se dissolve em desuso fazendo mais danos que benefícios à religião?

Ah! contrista dizê-lo, mas uma questão material domina aqui a questão religiosa.
Esta crença tem sido grandemente explorada pela idéia de que com dinheiro se abrem as portas do céu, livrando das do inferno. As quantias por estes meios arrecadadas, outrora e ainda hoje, são incalculáveis, e verdadeiramente fabuloso o imposto prévio pago ao temor da eternidade.
A Nova Revelação, dando noções mais sensatas da vida futura e provando que podemos, cada um de nós, promover a felicidade pelas próprias obras, deve encontrar tremenda oposição, tanto mais viva por estancar uma das mais rendosas fontes de receita.

O CÉU E O INFERNO
OU
A JUSTIÇA DIVINA SEGUNDO O ESPIRITISMO

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