Cheguei ao velório daquela criança, filha querida de um grande amigo, que nascera com graves defeitos físicos, mas tinha um rosto lindo, olhos azuis brilhantes de esperanças e um sorriso encantador. Ela viveu pouco menos de cinco anos.
Eu ensaiei algumas palavras de conforto ao casal que eu tanto amava, mas decidi que nada falaria, queria apenas abraçá-los. Cheguei na sala do velório e não vi meus amigos. Parei ante aquele pequeno corpo que parecia sorrir parar mim. De repente senti-me abraçado por traz. Eram os pais da criança.
Puxaram-me para um canto e me contaram algo maravilhoso; contaram que a menina estava inconsciente, porém, momentos antes do passamento, despertou, e ao ver os pais chorando, esticou seu bracinho e apanhou uma lágrima grande do pai, na ponta de seu dedinho indicador e beijou-a, e depois assoprou-a, desfazendo-a. Olhou com imensa ternura para ambos e disse: chora não! Chora não...
Depois, não sabemos se foi ela quem falou, mas uma voz suave se fez ouvir:
– Obrigada pelo amor que me deram. Sua lágrimas são abençoadas, porque nasceram de uma dor muito grande. Sei que seus sonhos para a minha vida se transformaram em farrapos escuros de sonhos luminosos. Suas lágrimas são uma benção, porque vocês carregaram comigo a minha cruz até o alto do meu calvário. Nos seus corações encontrei um templo de amor e um ninho de proteção para as minhas asas frágeis e inexperientes. Nossas lágrimas transformam-se da noite escura para o esplendor de um sol de primavera.
Atônitos, disse meu amigo, olhávamos para ela, quando ela expirou suavemente. Juramos que ouvimos isso que te contamos. Ou será que enlouquecemos?
Tudo é possível para quem ama, respondi.
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