segunda-feira, 6 de junho de 2011

UM MINUTO APENAS

Lúcia era uma mulher feliz, como poucas, acreditava. Casada com o homem por quem se apaixonara nos verdes anos da adolescência, vivia o sonho da mulher realizada. Um filho lhe viera coroar a felicidade.

Que mais ela poderia desejar? Acordava pela manhã e saudava o dia cantarolando. Com alegria realizava as tarefas do lar, cuidava do filho, aguardava o marido. Tudo ía muito bem até o dia em que descobriu que o homem que tanto amava, a traía. E não era de agora.

O problema vinha tomando corpo ha algum tempo. Magoada, se dirigiu ao marido e exigiu-lhe respeito. A resposta foi brutal, violenta. O homem encantador tornou-se raivoso, briguento. Chegou a bater-lhe.Foi nesse dia que Lúcia teve a certeza de que seu casamento acabara.

Não poderia continuar vivendo com alguém que chegara à agressão física. Então, acordou na manhã de tristeza, depois de uma noite de angústia, e tomou uma séria decisão. Iria se matar. Acabar com a própria vida. Mais do que isto, ela desejava vingança.

Por isso, tomou o filho de quatro anos pela mão e decidiu que o mataria. Queria que o marido ficasse com drama de consciência. Seu destino era o farol da Barra, na cidade de Salvador, Bahia, onde residia. Ela sabia que era um local onde o mar batia com violência no penhasco.

A rua por onde transitava era muito movimentada. Enquanto aguardava para fazer a travessia, a criança escapou da sua mão e correu por entre os carros. Ela se desesperou. Estranho paradoxo. Conduzia a criança para jogá-la ao mar mas, quando a vê correr perigo, esquece de si mesma e vai-lhe no encontro, agarra-a e a puxa pela mão, um tanto nervosa.

Neste momento, a criança se abaixa, alheia a tudo que se passava, e recolhe do chão um papel. Lúcia o toma das mãos do pequeno e um título, em letras grandes, lhe chama a atenção: UM MINUTO APENAS.

Ela lê: "num minuto apenas, a tormenta acalma, a dor passa, o ausente chega. O dinheiro muda de mão, o amor parte, a vida muda." Vai andando, puxando a criança e lendo a página.

Era uma página mediúnica que vinha assinada por um Espírito. Ela terminou de ler. Passou o ímpeto. Em um minuto. Parou, olhou ao redor e verificou que tinha chegado ao seu destino. O penhasco estava próximo. Sentou-se e teve uma crise de choro.

O impulso de se matar havia desaparecido. Tornou a ler a mensagem. Ela se recordou de um senhor que era espírita e trabalhava no banco, no mesmo onde seu marido trabalhava.

Foi para casa. Lembrou que um dia, jantando em casa dele, ele falara algo sobre Espiritismo. Algo que ela e o marido, por terem outra formação religiosa, rechaçaram de imediato. Ela lhe telefonou, pediu-lhe orientação e ele a encaminhou a uma Casa Espírita. Atendida por companheiro dedicado, que lhe ouviu os gritos da alma aflita, passou a buscar na oração sincera, na leitura nobre, no passe reconfortante, as necessárias forças para superar a crise.

O marido, notando-lhe a mudança, a calma, no transcorrer dos dias, a seguiu em uma das suas saídas do lar. Desconfiado adentrou ele também na Casa Espírita, para descobrir uma fonte de consolo e esclarecimento.

Hoje, ambos trabalham na seara Espírita. Reconstituíram sua vida, refizeram-se. Os anos rolaram, o garoto é um adolescente e mais dois filhos se somaram a ele.

Mudança de rumo. A vida muda, em um minuto apenas. Em um minuto apenas Deus providencia o socorro. Pode ser um coração atento, uma mão amiga ou um pedaço de papel impresso, caído na calçada.

Papel que o vento não levou para longe. Um minuto apenas e o amor volta, a esperança renasce. Um minuto apenas e o sol rompe as nuvens, clareando tudo. Não se desespere, espere. Um minuto apenas. O socorro chega.

O panorama se modifica. A vida refloresce. Tenha paciência. Não se entregue à desesperança. Aguarde. Enquanto você sofre, Deus providencia o auxílio. Aguarde. Um minuto apenas.


Minuto Poético.

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