segunda-feira, 2 de maio de 2011

O QUE É ESTAR "SALVO" ?

Nas religiões cristãs o Senhor Jesus recebe o título de “o Messias”, o “Salvador”.
O que entendemos por “Salvador” ou “Salvação”?

Será que temos a percepção da verdadeira missão do Cristo entre nós?
Muitas vezes nos ensinaram que o Senhor Jesus morreu na cruz para nos “salvar”. Que o “sangue do Cristo lava os pecados do mundo”.
O episódio da Crucificação nos é trazido como o ponto máximo da missão do Cristo entre nós.
Recentemente, um filme de muito sucesso se ateve a narrar as últimas horas de Jesus encarnado.
Peço licença para fazer uma reflexão diferente e discordante.

Penso que a Crucificação do Senhor Jesus (não querendo de forma alguma minimizar o exemplo e o testemunho do Senhor Jesus nem a sua dor real) foi apenas um episódio circunstancial, fruto de um momento político conturbado e de uma série de intenções obscuras oriundas da necessidade de neutralizar as ações daquele homem que, por suas palavras, estava promovendo uma verdadeira subversão dos valores vigentes àquela época.
Era preciso calar aquela voz de qualquer forma. Tentaram colocá-lo várias vezes em contradição com os Seus próprios ensinamentos e, não o conseguindo, a única forma achada foi silenciá-lo através da sua eliminação física.

Um verdadeiro complô entre os sacerdotes do Templo e o poder romano, representado por Pôncio Pilatos, que na narrativa evangélica tem a sua participação minimizada, mas que a verdade histórica mostra de uma forma bem diferente. A crucificação era a pena de morte imposta pelos romanos aos crimes políticos e de sonegação de impostos (os judeus tinham a morte por lapidação como sua pena capital e não podiam aplicá-la sem autorização do governador romano). Jesus foi condenado por um crime contra as leis romanas, conduzido por soldados romanos ao Gólgota, portanto com ordens expressas de Pilatos. Pôncio Pilatos era um homem cruel, frio e é pouco provável que o episódio do “lavar as mãos” tenha ocorrido conforme narrado.

Se esses episódios “tivessem” que acontecer, para dar destaque à figura de Jesus e à sua missão, os personagens causadores não seriam responsáveis por suas ações, apenas estariam cumprindo uma tarefa. Caso isto fosse verídico, veríamos contrariado o ensinamento dos Espíritos trazidos na q. 861 de O Livro dos Espíritos, de que “nunca há fatalidade nos atos da vida moral”.

Não nego que o episódio era “possível” de acontecer, de que era até “muito provável” de acontecer, mas daí a tratá-lo como uma Fatalidade ou uma “necessidade” vai uma distância muito grande.

O Senhor Jesus não é o “Salvador” por ter sido traído e assassinado de uma forma cruel e dolorosa e nem estamos “salvos” por causa disso.

“Salvação” também não é um passe de mágica em que alguém, ou um grupo ou uma seita, possa ser retirado de um estado de Sofrimento para um estado de Felicidade, sem que faça nenhum esforço para isso, bastando apenas a confissão de sua crença ou de sua fé.

Chegam, até, algumas correntes desse pensamento religioso a afirmar que nunca seremos “bons o suficiente”, perante a Deus, para, pelo mérito de nossas próprias, ações sermos “salvos”. Dogmaticamente, afirmam que somente a Fé pode salvar.

Baseados nesse raciocínio ficam sem sentido, as seguintes afirmações do Senhor Jesus: “É pelo fruto que se conhece a árvore”, ou “A cada um segundo as suas obras” ou então “Nem todos os que dizem Senhor!, Senhor! entrarão no Reino dos Céus, apenas aqueles que fazem a vontade de Meu Pai”.

Como pensar em “Salvação” sem “Transformação”?

Entendo “transformação” como o ato de “transformar a ação”.
A lei que rege o processo evolutivo dos Espíritos é de Causa e Efeito, ou seja, disparada a Ação, a sua conseqüência é inevitável (“a sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória”).
Estar “salvo”, isto é, deixar de sofrer as consequências dolorosas de um ato, é entender que as causas desse sofrimento estão no agente disparador da ação, ou seja, no próprio indivíduo. Aquele que entende isso está “salvo”, mas não está livre do sofrimento. Só vai se livrar do sofrimento quando “transformar a ação” geradora do sofrimento em ação geradora de Felicidade, já que tanto Sofrimento como Felicidade são “efeitos de ações”.

Esta é a grande tarefa de Jesus entre os homens, através do Seu Evangelho de Amor: trazer “novas notícias” para que através delas os homens encontrem a motivação necessária para “transformar as ações geradoras de sofrimento em ações geradoras de felicidade”.

Jesus é o Salvador não por intervir nos Efeitos, porque isto é impossível já que é a Lei, mas por propor um modelo comportamental que modifica as Causas e, por conseqüência os Efeitos, porque esta é a Lei.

“Não vim abolir a Lei, mas fazê-la cumprir”.

Marlio Lamha
Grupo Rita de Cássia de Estudos Espíritas,
localizado na Av. Gal. San Martin, 1212,
no Leblon - Rio de Janeiro


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