Que é o que motiva a mudança que se opera no caráter do indivíduo em certa idade, especialmente ao sair da adolescência? É que o espírito se modifica?
Resposta: É que o espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era.
A partir dessa afirmativa, encontramos elementos de análise que iluminam nosso entendimento, a saber que a adolescência revela o ponto no qual o espírito se apresenta, estagiando em conflitos maiores ou menores conforme experiências pretéritas que carregue o ponto crítico de retomada dessa natureza que lhe é peculiar.
Voltando a narrativa inicial acerca do desejo de singularidade, poderíamos apostar que a força desse desejo expressa exatamente a peculiaridade desse momento onde o espírito se reconhece num ponto crucial de mudança de atitude, exigindo que ele avance, ou seja, busque novos caminhos ou estacione.
Na medida em que o espírito, na adolescência, se percebe em sua singularidade, ele reforça ou não a mesma, dependendo, das escolhas e tendências que caracterizam sua individualidade. Reforçar a singularidade pode representar várias coisas, indo desde a auto-afirmação de inclinações negativas pretéritas até o desejo de transformação das mesmas, construindo um novo panorama dessa mesma singularidade.
Há, portanto, aqueles espíritos que encerram em si grandes dificuldades de transpor defeitos até mesmo por não terem à sua volta, estímulos reforçadores de seu lado criativamente positivo. Neste contexto, encontramos jovens que freqüentemente, são reforçados pelos transtornos que causam, lembrados apenas no desgosto que causam, no prejuízo material e emocional que geram.
Dito isso, é imprescindível aprendermos a não só conviver com os jovens, mas despertar para as contradições observadas na nossa conduta diante dos mesmos. Ora cobramos atitudes e posturas de um comportamento adulto, alegando que eles não são mais crianças para agir desta ou daquela forma e no mesmo circuito, infantilizamos nosso tratamento para com eles, cerceando, demasiadamente, sua liberdade de ação e expressão.
Sem dúvida, não se quer dizer com isso, que o jovem deva fazer o que bem entenda, desconsiderando os limites inerentes à relação humana; até porque nem ele e nenhum de nós possui a possibilidade de agir descompromissadamente, ferindo as leis da convivência e do respeito ao espaço do outro.
Pais e educadores deveriam atentar para o seu papel de facilitadores do desenvolvimento e das potencialidades do espírito na juventude e na infância, assim como para sua função de orientadores que auxiliam seus passos, encorajando-os a fazer boas escolhas.
Lembrando sempre: Nossos filhos são espíritos e como tal trazem bagagens próprias nem sempre afinizadas com aquelas peculiaridades de seus familiares. Estas bagagens nos exigem esforço de compreensão, uso da disciplina, mas principalmente estímulo à mudança de sentimentos e ações através do amor.
Jesus, o nosso grande modelo, lidou com espíritos de naturezas diversas, rudes, dóceis, esclarecidos, ignorantes, acima de tudo singulares. Sua pedagogia foi o amor sabidamente conduzido, sem sentimento de apropriação nem tampouco cobranças descabidas. Ele nos auxiliou, compreendendo nossa condição evolutiva, nos estimulando a crescer, sem nos ferir. Jesus nos exemplificou a capacidade de conciliar amor e disciplina, sem exagero de dose e ele é o único parâmetro indefectível que nos servirá, sempre de referencial de conduta.
Saibamos respeitar a singularidade e quando percebermos que ela se equivoca, utilizamos a dose certa do amor que vence pacientemente as dores, mas para isso é preciso aceitarmos que ainda não sabemos amar, no sentido cristão da palavra, logo, filhos, pais e educadores são todos alunos de uma grande conquista o exercício pleno do amor.
Bianca Cirilo
Retirado da Revista Estudos Espíritas
Dezembro/2000
Edições Léon Denis
Nenhum comentário:
Postar um comentário