quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

COMO UM VELHO BOIADEIRO

Muitas vezes, atravessamos difíceis momentos em nossa vida. Dificuldades, obstáculos, falta de perspectivas. Desânimo mesmo. Dor.

Nessas ocasiões, é necessário que reflitamos sobre a Lei de Causa e Efeito, sobre a Justiça Divina e sobre o que a “dor”, as dificuldades significam para nossa vida.

Quem conhece e, mais que isso, compreende efetivamente o processo reencarnatório, sabe que as dificuldades e “dores” (morais e/ou físicas) são um sinalizador na estrada de nossa existência, indicando que estamos trilhando hoje um caminho que projetamos e construímos, de forma não adequada, no passado de nossa(s) existência(s).

A esse respeito, podemos fazer analogias e inferências, utilizando um poema muito lindo, na verdade a letra de uma conhecida canção, que em um de seus trechos diz assim: “...penso que cumprir a vida / seja simplesmente / compreender a marcha / ir tocando em frente. / Como um velho boiadeiro/ levando a boiada / eu vou tocando os dias / pela longa estrada / eu vou / estrada eu sou” (1).

As dificuldades, as provações, são a “boiada” que adquirimos, pelos compromissos cármicos, em encarnações passadas. Quando viemos para esta vida, somos os “boiadeiros”, que temos que tanger e entregar a “boiada”. Quando entendermos isso, compreendemos que temos que “...ir tocando em frente...”, simplesmente, compreendendo a razão e a necessidade da marcha.

Temos então que ir tocando a boiada. Pela longa estrada. Longa e difícil. Mas devemos nos lembrar que “...estrada eu sou...”. Fazemos nossa própria estrada. E nesse trajeto, temos que “ir entregando nossa boiada”. Como velhos boiadeiros de nossas imperfeições, temos que ir tocando os dias, tocando a vida, compreendendo a marcha, ir tocando em frente.

Nossos erros do passado, tornaram nossa estrada complicada, que muitas vezes nos conduz para abismos profundos, outras para serras escarpadas e íngremes. No entanto, “...estrada eu sou...”, posso pavimentar um novo caminho. Mais plano e suave.

Devemos nos lembrar, no entanto, que pela Lei de Justiça, para sair do abismo, há que se escalar as íngremes paredes, com todos os “esfolados” e “escoriações” causados pela dificuldade do trajeto. Da mesma forma, para se descer da serra escarpada, há o perigo dos desfiladeiros, das rochas cortantes, da trilha estreita e desgastante.

Mas se quisermos, lá em baixo, ou lá em cima, a “nova” estrada estará pronta, como a construirmos agora. Para trilhar ainda nesta vida. Também para a existência futura.

Se subimos a “serra”, temos que descer, e se estávamos no “abismo”, temos que subir. Por dolorido que seja, não há, peremptoriamente, como evitar isso. Esse caminho difícil é o da "entrega da boiada", e a medida que o trilharmos, com decisão, vamos “entregando alguns bois”, a boiada vai ficando menor, e a boiada menor é mais fácil de tocar.

Fé, pensamento positivo, esperança e confiança, bom senso, razão e amor. Tal a “receita” de uma boa estrada para nossa vida. Se buscarmos e conseguirmos esse tipo de atitude, o trecho ruim, com certeza, terá seu término mais a frente. Cabe a nós caminharmos até a “boa estrada”, apesar das dificuldades e obstáculos do trecho momentâneo, cujo projeto de engenharia imprevidente, foi por nós realizado no pretérito. Lembremo-nos, como reforço para o caminho: "Ora e confia, buscai e achareis".

Com extrema sensibilidade e rara felicidade, prossegue o poema: "...cada um de de nós / compõe a sua história / cada ser em si carrega / o dom de ser capaz / de ser feliz..."(1) .

Nossa história é escrita por nós mesmos. Nossa estrada somos nós mesmos. Só nós podemos decidir e construir nossa felicidade. Deus nos deu esse dom, “...o dom de ser capaz de ser feliz...”.

Desenvolvermos ou não esse dom, é decisão própria, pessoal, intransferível. Livre arbítrio, inviolável.


(1)“Tocando em Frente”, poema de Renato Teixeira. Em minha opinião, a mais bela letra da música brasileira, um verdadeiro poema, um libelo à vida. A musica é de Almir Sater, que gravou uma versão de emocionar de linda.

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