Segundo a qual é impossível escapar ao que está decretado pelo destino. Esta concepção, rigidamente determinística, passou para a cultura popular e é expressa em frases como:
*Deus escreve certo por linhas tortas;
*Casamento e mortalha no céu se talha;
*Quem morre na véspera é peru;
*O que é do homem, bicho não come;
*Quem nasceu para dez réis, não chega a vintém;
*O que tem de ser será e assim por diante.
Esse tipo de doutrina possui um caráter limitador e conformista que nos impede de modificar a nossa vida por acreditarmos que tudo está escrito antes do nosso nascimento e que nada poderemos fazer para mudar.
Uma outra consequência dessa maneira de ver a vida, é o surgimento de grande número de espertalhões que vivem a explorar a ansiedade das pessoas com respeito ao futuro e passam a vender ilusões àqueles que estão dispostos a comprá-las. As pessoas ansiosas com o que vai acontecer no futuro, não raro, se esquecem do presente.
Não podemos perder de vista o fato de que hoje construímos o nosso amanhã.
A minha felicidade,ou infelicidade, futuras dependem do rumo que estou dando à minha vida agora.
Assim, a pessoa previdente que amealhou recursos ao longo de sua vida, que fez amigos sinceros, que cuidou da saúde sendo parcimonioso na alimentação e evitando os vícios, terá, por certo, uma velhice tranqüila; mas, se foi imprevidente, perdulário, incapaz de fazer amizades e vítima de vícios, com toda a certeza terá grandes chances de acabar pobre, doente, triste e só.
O que a Doutrina Espírita tem a dizer sobre isso?
Será o Espiritismo uma doutrina determinística?
Ao defender a tese do livre-arbítrio, a Doutrina dos Espíritos dá um golpe profundo na concepção tradicional do destino.
A Doutrina Espírita nos fala de compromissos que assumimos no Plano Espiritual antes de nosso nascimento.
Isso é verdade, mas não se trata de destino.
Quando Jesus começa a sua vida pública, recruta os seus auxiliares: os apóstolos.
Jesus não os convence a segui-lo nem os persuade, oferecendo vantagens, ele fez um convite e o convite dele, como no caso de Levi (Mateus), foi aceito prontamente.
Acreditamos que os apóstolos diretos de Jesus tinham, antes de encarnar, assumido um compromisso com ele, na hora de ratificar esse compromisso, eles ofizeram sem vacilar. Tomemos, entretanto, um outro exemplo.
Conta-nos os evangelhos que, um dia, um jovem muito rico aproximou-se de Jesus e lhe perguntou o que deveria fazer para alcançar o Reino dos Céus.
Jesus lhe perguntou se ele seguia a lei de Moisés e os ensinamentos dos profetas e ele disse que sim.
Então Jesus lhe diz:
"Dá tudo o que é teu aos pobres, segue-me e terás um tesouro no céu."
O rapaz era livre para escolher entre abrir mão de sua fortuna pessoal e seguir Jesus ou não renunciar à vida material e prosseguir fora do reino dos Céus. Ele escolheu não abrir mão de suas posses e continuar materialmente rico. Imaginemos, só para argumentar, que o moço nascera com a proposta de superar o apego ao dinheiro, porém, falhou na hora de dar o seu testemunho. Os apóstolos não falharam, mas ele falhou.
Assim, como se pode ver, há uma diferença considerável entre comprometer-se com alguma coisa e estar destinado a realizá-la.
Nós somos livres para tomar as nossas decisões.
Há, no Velho Testamento, uma passagem fantástica com respeito à liberdade humana.
Moisés havia reencarnado para realizar uma profunda transformação religiosa. No entanto, na hora em que foi chamado por Jeová a fim de dar início a seu trabalho, tremeu. O Espírito do Sinai percebe a sua hesitação, sabe que precisa dele para realizar a tarefa que deve ser realizada, porém, não o obriga, convence-o a fazer o que deve, destruindo os argumentos que Moisés expõe para se desviar da rota que ele mesmo havia traçado.
Saulo de Tarso é um outro exemplo de espírito compromissado com uma tarefa importantíssima para a evolução do planeta. Ele foi o espírito escolhido para levar o Evangelho de Jesus aos gentios, ou seja, ao mundo não judeu. Por certo foi consultado e aceitou a missão. Na terra, encarnado, Saulo deixou-se levar por outros interesses, mas Jesus o desperta no Caminho de Damasco.
Outros exemplos como o de Santo Agostinho e Francisco de Assis, podem ser trazidos para aqui corroborando a nossa tese.
Nenhum desses espíritos estava fadado - no sentido grego desta palavra - a realizar as tarefas que realizaram.
Não estavam obrigados, a não ser pela integridade de seus caracteres, a levar a cabo o trabalho que deveriam executar.
Esta idéia é muito útil para as pessoas conscientes.
Não somos determinados, por qualquer tipo de força externa, a fazer ou deixar de fazer alguma coisa.
Somos, portanto, livres para errar ou acertar e por isso, responsáveis por tudo o que nos acontece de bom ou de mau. Imprimir qualidade à sua vida é, antes de mais nada, ter consciência de sua própria liberdade e preparar-se todo o tempo para exercê-la de um modo produtivo.
Qualidade de vida e Espiritismo
José Carlos Leal
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