quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

AMEMOS OS INIMIGOS

Amar os inimigos não é ir ao encontro deles, abraçá-los e beijá-los. Amar os nossos inimigos, se os tivermos, ainda que supostamente gratuitos, é jamais lhes guardar ódio, é perdoá-los sem pensamento ou intenções ocultas, é nunca lhes opor obstáculo à reconciliação, desejando-lhes sempre o bem e até vibrarmos de contentamento, quando formos informados de um grande bem que lhes advenha; numa palavra, não guardarmos contra eles qualquer ressentimento.
Sempre que nos surpreendermos na emissão natural ou espontânea de um pensamento de amor, em favor de alguém que haja procedido mal para conosco, estaremos recolhendo, aí, o testemunho de um coração em processo de espiritualização. Que isto ocorra com todos nós.
Se porventura tivermos dúvida a respeito do vigor da Doutrina Espírita dentro de nós, de que modo conseguiremos dirimir tão amarga incerteza?
Bastará que consultemos a consciência, na intimidade de uma meditação para a qual roguemos a presença do divino Amigo de nossas almas, mais ou menos assim:
Quantas outras indagações poderíamos alinhar aqui relacionadas com os nossos propósitos sinceros de renovação espiritual, no sentido de nos sentirmos cada vez mais enriquecidos de traços positivos em nossa personalidade! Que anseio de olharmos bem fundo no interior de nós mesmos e não mais percebermos preocupantes sinais denunciadores da possibilidade de novas precipitações em desastrosas quedas!
- Como estarei aos olhos do Pai que me observa neste momento?
- Serei capaz de trair o meu próximo, que em mim confia?
- Serei capaz de mentir, ainda que premido por imensa necessidade, sabendo que, mentindo, prejudicarei o meu próximo?
- Serei capaz de praticar um ato desonesto, conscientemente?
- Serei capaz de negar a alguém aquilo que estiver ao meu alcance realizar?
- E quanto àquele que se positive meu inimigo, em função de sua conduta contra mim, serei capaz de negar-lhe perdão?
- E em se apresentando ocasião, serei capaz de prejudicá-lo?
- E dentro do movimento superior do Doutrina a que me julgo pertencer, em me sentindo incomodado por um companheiro, serei capaz de contra ele guardar ressentimento ou aversão?
Diz-nos Kardec que "aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em grau superior de adiantamento moral".

Mas, já estará isento da influência solerte da vaidade que não suporta censura e das paixões que incitam o ódio?
Mais adiante, e no mesmo parágrafo daquele item 4, que se refere a Os bons espíritas, conclui o sábio lionês:
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más."

Enquanto estivermos situados na condição de Espíritos errantes, nunca seremos santos no sentido lato que se vem dando a este termo, mas convém, recordando Pedro em sua 1ª Epístola (1:15), que sejamos santos em sentido restrito ao termo em sua acepção inicial latina Sanctus, isto é, sempre dispostos a lutar com todas as nossas forças a fim de que jamais venhamos a sofrer censura da própria consciência por não sabermos impor silêncio às nossas rivalidades e às nossas discórdias, permitindo que, em função delas, venhamos a causar dano à obra do Consolador.
Amar os inimigos importa também em zelar, portanto, pela respeitabilidade da Doutrina a que nos devotamos.
Pois seria tristíssimo para nós termos informação de que alguém que simpatizara com o Espiritismo, sem ser ainda espírita, haja se afastado de nosso meio ao perceber rivalidades e discórdias entre companheiros.
Se amar os inimigos é evangelicamente grandioso, não deixa de ser profundamente decepcionante para a consciência afastarem-se espíritas uns dos outros por magoa ou ressentimento.
Isso seria retorno ao nosso passado histórico, quando não dispúnhamos das luzes do Consolador prometido...

INALDO LACERDA LIMA

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