1. A Igreja Católica admite a cremação de cadáveres humanos?
A incineração dos cadáveres humanos remonta à antiguidade.
Na Idade do Ferro já existiam as necrópoles de incineração, como os "campos de urnas" de Alpiarça, atribuídos à época céltica, e a necrópole de Alcácer do Sal, 300 anos a.C.
A cremação constituía regra na Grécia primitiva e entre os romanos e ainda hoje é costume em várias regiões do globo, como a Índia e Portugal.
A Igreja, já nos primórdios do Cristianismo, proibia a cremação, e o Clero romano a condena até nos dias atuais, certamente por coerência com o dogma da ressurreição dos corpos, definido no 4º Concílio de Latrão e confirmado no 11º Concílio de Toledo, realizado em 675.
O Código de Direito Canônico estabelece no cânon 1240, 5º, estarem privados de sepultura eclesiástica os que mandarem, antes de morrer, cremar o seu corpo, além do que não farão jus a qualquer missa exequial e a nenhum outro ofício fúnebre.
2. Há vantagens na cremação de cadáveres?
Foi em 1774 que se iniciou o movimento pró-cremação, iniciado pelo abade Scipion Piattoli, o qual se expandiu pela Suíça, Alemanha, Inglaterra, França etc. Na França, uma lei de 1886 consagra o direito à escolha pela sepultura ou pela cremação.
No campo econômico, a vantagem da incineração é evidente. As despesas de funeral seriam reduzidas enormemente. O espaço físico destinado aos cemitérios não seria necessário. Ao invés de mausoléus, uma urna pequena resolveria o problema.
No aspecto higiênico ou sanitário, a cremação é a solução ideal. Alguns cientistas opinam pela incineração obrigatória em casos de morte por moléstia contagiosa, como tifo, varíola, escarlatina (doença infecciosa aguda, caracterizada por febre, erupção de pequenos pontos vermelhos e descamação em largas placas e outras).
Nas epidemias, só o fogo pode ensejar um saneamento em regra.
3. Há desvantagens na cremação de cadáveres?
No campo jurídico, apontam-se alguns argumentos contrários à cremação, pois, destruído o cadáver, a cremação impediria qualquer verificação post-mortem que se fizesse necessária.
No aspecto espiritual Léon Denis aponta uma desvantagem, pois que, em geral, a cremação provoca desprendimento mais rápido, mais brusco e violento da entidade desencarnante, sendo mesmo doloroso para a alma apegada à Terra. Determinados Espíritos permanecem algum tempo imantados ao corpo material após o transe da morte, como acontece principalmente com os suicidas.
O rompimento do cordão fluídico nem sempre se consuma num curto espaço de tempo. Nessas condições, o desencarnado é como se fosse um morto-vivo cuja percepção sensória, para sua desventura, continua presente e atuante. A cremação viria causar-lhe um angustiante trauma, o que seria "aumentar a aflição ao aflito".
4. Qual é a posição espírita sobre a cremação de cadáveres?
Além da posição, já vista, de Léon Denis, o que existe são posições esparsas. Richard Simonetti entende que, embora o cadáver não transmita sensações ao Espírito, este experimentará obviamente "impressões extremamente desagradáveis" se no ato crematório a entidade estiver ainda ligada ao corpo.
Paul Bodier acha que "a incineração, tal como se pratica entre nós, é, com efeito, prematura demais". Talvez, por isso a inumação devesse ser o processo normal, só se cremando os cadáveres com sinais evidentes de putrefação.
Emmanuel esclarece, através de Chico Xavier, que "a cremação é legítima para todos aqueles que a desejam, desde que haja um período de, pelo menos, 72 horas de expectação para a ocorrência em qualquer forno crematório". (Veja "Pinga-Fogo na TV Tupi-SP", realizado em 1971.)
Allan Kardec, ao que nos consta, não cuidou especificamente do assunto, o que equivale a dizer que a Doutrina Espírita não tem uma posição firmada sobre a cremação de cadáveres.
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