quarta-feira, 10 de agosto de 2011

CRIAÇÃO E DESTINO DOS ESPÍRITOS


Ensina a doutrina kardecista que os espíritos foram e continuam sendo criados por Deus simples e ignorantes, mas destinados a progredirem até que alcancem o aperfeiçoamento através de sucessivas reencarnações neste e em outros mundos posto que, como disse Jesus: "há muitas moradas na casa do Pai" (João 14:2)Outras concepções dentro do cristianismo entendem que o Espírito é criado para cada ser nascente para uma única vida terrena, cujo destino será o céu ou o inferno, conforme se tenha conduzido nessa experiência terrena, ou o limbo, lugar para onde vão as almas das criancinhas que morrerem sem batismo.



Deus que é bondade e sabedoria infinitas não deixaria seus filhos à mercê das vicissitudes humanas, sujeitos a uma condenação perpétua, irrecorrível contrariando as palavras de Jesus: Assim, também, não é vontade de vosso Pai, que está nos céus, que um destes pequeninos se perca (Mateus 18:14).

Também fere a nossa razão a hipótese de que outros serão brindados com o descanso e a contemplação sem fim, quando Jesus preceituou: Meu Pai trabalha até agora, e eu também trabalho (João 5:17).

Igualmente absurda nos parece a idéia do limbo, espaço neutro, sem perspectivas para os Espíritos sem culpa, que não foram balizados por desídia ou por falta de dinheiro dos pais.

Outrossim, o conceito de apenas uma encarnação não explica as mais diversas diferenças entre os homens. Uns nascem em berço de ouro, outros não têm onde pousar; uns nascem com fulgurante inteligência, outros com intelecto mediano e alguns broncos ou portadores de mongolismo; muitos aqui chegam com seus corpos perfeitos, sadios, aptos para uma vida normal, enquanto vemos nascerem cegos, surdos-mudos, coxos e estropiados; milhões aportam em grandes cidades que oferecem condições plenas de uma vida tranquila, outros tantos sofrem em ambientes adversos carentes de água e alimento.

Podemos ver a justiça de Deus nesses aspectos díspares para quem não tem um passado que legitime as benesses ou os infortúnios?
Não, absolutamente não. Deus é amor e justiça suprema. Ademais, Jesus afirmou que a cada um será dado segundo o seu merecimento, de acordo com o texto de Mateus em 16:27: Porque o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta.

Alcançar o aprimoramento espiritual no pequeno lapso de tempo de uma única vida é inconcebível. A natureza não tem pressa, não dá saltos. A versão bíblica de que o mundo foi criado em sete dias é meramente simbólica. Há mais coerência em entender que cada dia representa uma fase da criação.

A ciência prova que a formação do planeta se deu em diferentes eras e que cada uma dessas divisões geológicas durou milhões de anos. Semelhantemente, a criação dos Espíritos não se dá num piscar de olhos nem num simples estalar de dedos de Deus.

Ao impulso de Sua vontade, o surgimento do espírito inicia-se com a aglutinação do fluido universal, presente em todos os espaços, que passa por um processo lento, longo, até que se haja consolidado o princípio inteligente, ou seja, o Espírito com livre-arbítrio e responsabilidade.

No dizer de Leon Denis, a alma dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal e desperta no homem.

Assim nasce o espírito, simples, ignorante, primitivo para que em um número indefinido de encarnações neste e em outros planetas desenvolva-se moral e intelectualmente até alcançar a angelitude.

Assemelha-se o espírito recém criado ao diamante bruto. Garimpado, sujeita-se à penosa ação de lapidação, por longo tempo de reencarnações, para eliminar suas jacas e, finalmente, após milénios sem conta, apresenta-se multifacetado e brilhante.

Na obra de Deus, não há privilégios. Em sua infinita sabedoria e justiça Deus não criou anjos, eles não são uma produção especial, fora de série. Os anjos, os arcanjos e querubins já foram o que fomos ontem, o que somos hoje, e nós teremos amanhã a constituição angelical dos espíritos puros. É nosso destino.


Felinto Elízio Duarte Camnoln - Jornal Espírita - maio/05

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