O dia decorria com naturalidade e normalidade, numa tarde soalheira de Verão, quando uma adolescente nos pergunta com a rapidez e frontalidade características da sua faixa etária:
"As famílias espíritas são diferentes?
Pensei que eram diferentes, que todos se dessem muito bem e que nunca tivessem problemas, afinal, são como as outras... No entanto a minha família está muito melhor desde que conheceu o espiritismo. É assim?"
Pensei que eram diferentes, que todos se dessem muito bem e que nunca tivessem problemas, afinal, são como as outras... No entanto a minha família está muito melhor desde que conheceu o espiritismo. É assim?"
Depois da surpresa da pergunta, quando o pensamento estava bem longe, talvez nos motivos do Verão, como a praia ou outro assunto com ele relacionado, não pudemos deixar de verificar a pertinência de tão arguta observação por parte de uma adolescente.
Aproveitando a oportunidade, lá lhe explicamos que as famílias espíritas são pessoas que apenas adotaram o espiritismo (ou doutrina espírita) como filosofia de vida, mas que continuam a serem pessoas, com as suas virtudes e defeitos, com os seus problemas existenciais como toda a gente, bem como que em muitas famílias acontece inclusive que um dos cônjuges é espírita e o outro não, sem que isso signifique qualquer motivo de problema no lar.
O espiritismo, ou doutrina espírita explica-nos que somos seres imortais que estamos temporariamente num corpo carnal, objetivando o nosso crescimento pessoal nesta existência corpórea (reencarnação). Assim sendo, somos espíritos que caminhamos, de reencarnação em reencarnação, buscando novas experiências, nova aprendizagem, objetivando um dia sermos espíritos puros.
Os espíritos agrupam-se em famílias espirituais, isto é, grupos de espíritos mais ou menos numerosos que se encontram na mesma faixa evolutiva. São os chamados espíritos simpáticos, ou espíritos que simpatizam entre si, que sentem afinidade entre si, derivada da sintonia vibratória em que se encontram, na mesma faixa evolutiva.
Quando voltam a Terra, esses espíritos pertencentes a uma determinada família espiritual podem estar reencarnados em vários locais, cidades, países. Podem por vezes encontrar alguns desses companheiros na sua própria família carnal, outras vezes encontram-nos mais facilmente fora da mesma.
A família carnal funciona como que um pequeno laboratório onde se transmutam os sentimentos, objetivando a paz interior, a tranquilidade íntima, onde podemos encontrar seres amigos ou inimigos provenientes do nosso passado. Nesse sentido, as famílias carnais são passageiras, mudam de acordo com a necessidade evolutiva de cada um, podendo numa próxima reencarnação voltarmos juntos de novo ou não. O verdadeiro laço familiar é pois o laço pelo espírito, pelos sentimentos e não o laço do sangue.
Nesse sentido a família afigura-se como abençoada escola onde se encontram amigos do passado para se apoiarem mutuamente e em conjunto aprenderem, e inimigos do passado para através dos laços de sangue aos poucos irem diluindo as clivagens que criaram em vidas anteriores. Assim surgem as simpatias naturais com este ou aquele familiar e as antipatias naturais com um ou outro membro da família.
Curiosamente a jovem amiga já nos tinha dado a resposta na sua oportuna intervenção, ao dizer que desde que conhecem o espiritismo, o ambiente familiar está muito melhor, os pais já nãos discutem tanto, notando-se uma franca melhoria no relacionamento interpessoal familiar.
Esse é o objetivo da doutrina espírita, que não sendo mais uma religião nem mais uma seita, afigura-se como uma doutrina que fornece ao homem conceitos lógicos e pesquisáveis sobre a existência humana neste planeta, fornecendo-lhe pistas fundamentadas sobre quem é, de onde vem e para onde vai no concerto da vida eterna, no universo. Nesse sentido a doutrina espírita leva o homem a interrogar-se, e a modificar-se interiormente no sentido de ter uma postura ética, favorecendo assim a paz, o relacionamento saudável entre todos, a harmonia social.
Bibliografia:
“O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec;
www.adeportugal.org , e www.acecr.org
José de Lucas
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