quarta-feira, 1 de junho de 2011

FATOS DA VIDA DE CHICO

Mulheres também atormentavam o balzaquiano mais casto da cidade. Uma vez, Chico abriu a boca numa sessão espírita em belo horizonte e deixou escapar uma voz encorpada, densa, vibrante. O rosto do rapaz ganhou ares aristocráticos. Após o discurso, o dono do vozeirão se identificou. Era Emmanuel. Azar de Chico. Uma das espectadoras, filha de um embaixador argentino perdeu a cabeça. Tinha encontrado o homem de sua vida.
A sessão terminou, a moça se agarrou ao braço do médium e não soltou mais. Quando Chico entrou na sala de passes, ela entrou atrás e trancou a porta. Para garantir privacidade, arrancou a chave da fechadura e guardou no bolso. O dublê de Emmanuel não sabia o que fazer com aquela mulher entre os braços. Ela queria casar, ter filhos, recitar o Evangelho Segundo Espiritismo para ele, ajudar todos os pobres do Brasil, doar.... Chico tentou escapulir em tom paternal:
- Minha filha, não tenho programa de casamento. Não valho mais nada e seria sua infelicidade. Você se apaixonou por Emmanuel e não por mim. Tenha paciência. Jesus há de nos ajudar. Você encontrara um homem bom que a fará feliz. Eu já não sou mais homem. Nada posso fazer.

Naquela época, Chico, um solteirão de fala mansa e gestos femininos, sofria insinuações maliciosas. E recorria a respostas prontas para justificar seu celibato.
-Devo me dedicar à família espírita, à família universal. Não posso ficar preso a uma mulher.

A moça insistia. Chico sofreu para convencê-la a abrir a porta. Reza nenhuma adiantou. Tempos depois, ele recebeu uma carta educada do pai da apaixonada. Em termos incisivos e delicados o embaixador pedia a mão do espírita em casamento para filha:

"Sei que o senhor é um homem pobre, de cor, mas como tenho uma filha só e sempre lhe fiz todas as vontades, assim como desejo que seja feliz, conformo-me e peço-lhe que se case com ela. Darei todo o dinheiro necessário para que tenham conforto." 

Chico agradeceu a generosidade do ex-futuro sogro e recusou a oferta. Quanto mais rezava, mais assombração aparecia.


Livro: As vidas de Chico Xavier
Marcel Souto Maior

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