quinta-feira, 16 de setembro de 2010

REFORMA ÍNTIMA


1 - Existe uma fórmula para a felicidade?
Vicente de Carvalho, poeta santista, diz, numa poesia famosa, que nunca encontramos a felicidade porque ela sempre está apenas onde a pomos e nunca a pomos onde estamos. Procuramos no lugar errado, nas curtições mundanas, nas seduções afetivas, no sucesso social e profissional...

2 - Mas tudo isso não é próprio da natureza humana? Não vivemos e nos movemos em função dessas realizações?
Sim, mas o problema é que fazemos delas um fim em si, isto é, passamos a vida à procura disso tudo para sermos felizes. No entanto, continuamos infelizes, mesmo quando realizamos nossos desejos, porque outros desejos surgem e estamos sempre insatisfeitos.

3 - Seria um círculo vicioso? Anseio, realização, novos anseios, eterna insatisfação?
Mais ou menos isso. É que não aprendemos que a felicidade deve ser
construída a partir do lugar onde estamos, da situação que estamos vivendo.
Como ensina velho ditado, a felicidade não é uma estação na viagem da vida. Trata-se de uma maneira de viajar.

4 - Uma realização interior?
Exatamente, buscando descobrir os potenciais divinos que há em nós. Há uma lenda hindu muito interessante a esse respeito. Conta-se que em tempos recuados todos os homens eram deuses. Abusaram tanto de sua divindade que Deus decidiu retirar seus poderes divinos. O Senhor considerou que não haveria lugar na Terra onde o homem não chegaria um dia. Resolveu, então, esconder os poderes divinos num lugar onde ele nunca se lembraria de procurar: dentro do próprio homem. Desde então, concluí a lenda, procurando felicidade o homem conheceu a Terra, explorou o espaço, mergulhou nos mares, escalou montanhas, em busca de algo que se encontra em seu próprio íntimo. Por isso Jesus dizia que o Reino de Deus está dentro de nós.

5 - Como fazer para alcançar esse Reino, essa descoberta de nossos poderes divinos, realizando a felicidade onde estamos?
Isso exige o cultivo de uma atividade não muito apreciada, principalmente pelos jovens, envolvidos com as badalações juvenis. Chama-se reflexão.

6 - Uma espécie de parar e pensar?
Mais ou menos isso. O bispo Bossuet, grande orador sacro francês, dizia que a reflexão é o olho da alma. Exercitá-la é nos voltarmos para dentro de nós mesmos, procurando, como Espíritos eternos em trânsito pela Terra, encontrar nosso espaço na vida, nossa tranquilidade para viajar, sem deixar que as fraquezas humanas nos conduzam. Ouvi de um mentor espiritual que se exercitássemos quinze minutos diários de reflexão, operaríamos prodígios em favor de nossa felicidade.

7 - Como poderíamos entender Isso de forma mais objetiva?
Santo Agostinho ensina, em «O Livro dos Espíritos”, que ele encontrou seu caminho a partir do momento em que passou a fazer, todas as noites, um exame de consciência, refletindo a respeito do que fora seu dia. Sobre o bem ou o mal que praticara, o que fizera de certo ou errado, a maneira como tratara as pessoas, como lidara com as situações. Era sempre severo consigo mesmo, disposto a iniciar um novo dia com o propósito de não incorrer nos mesmos erros, de aproveitar as oportunidades de edificação. Com semelhante empenho habilitava-se à proteção de benfeitores espirituais que o inspiravam e fortaleciam.

8 - Funcionou com Santo Agostinho, um Espírito luminar. Funcionaria comigo?
Antes de cultivar a reflexão Santo Agostinho foi também um jovem imaturo que apreciava as curtições da mocidade, à procura de felicidade nas estações da inconsequência.

Não pise na bola
Richard Simonetti

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