quinta-feira, 12 de agosto de 2010

INFORTÚNIO OCULTO NOS GRUPOS DOUTRINÁRIOS

" Mas, a par desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos: os dos que jazem sobre um grabato sem se queixarem.Esses infortúnios discretos e ocultos são os que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência." O Evangelho Segundo o Espiritismo - capítulo XIII - item 4

Com muita frequência, constatam-se medidas e alertas de vigilância contra o orgulho nos abençoados ambientes doutrinários. Verdadeira campanha espontânea tomou conta da seara em torno dos cuidados que se deve ter acerca dos efeitos nocivos do personalismo. Ninguém há de contestar o valor de tais iniciativas. Entretanto, enquanto empenhamo-nos contra esse costume, perceptível pela ostentação com a qual se manifesta, extensa gama de discípulos padece com outro traço moral enfermiço, nem sempre tão evidente na conduta humana: a baixa auto-estima.Um infortúnio oculto que solicita nossa atenção.
A sensibilidade humana tem sido insuficiente para detectar o caos interior em que vivem inúmeras criaturas, escondendo-se por trás das máscaras sociais, temendo tornarem conhecidos seus dramas inenarráveis que configuram um autêntico quadro de "loucura controlada".
A mesma raiz que vitaliza a vaidade é responsável pela carência de estima pessoal. O orgulho que procura brilhar no palco do prestígio, assim como a atitude de desamor a si mesmo, são manifestações do sentimento de menos valia ou complexo de inferioridade, que toma conta de multidões sem conta no orbe terreno.
Podemos facilmente confundir atitudes de baixa auto-estima com comportamentos personalistas. Criaturas com escassez de auto-amor lutam para preservar suas reais intenções demonstrando, para tal, pouca ou nenhuma habilidade através de atitudes desconectadas de seus verdadeiros sentimentos; adotam condutas defensivas que podem ser interpretadas como individualismo e ingratidão. No fundo se debatem com a incapacidade de estabelecerem limites de proteção ao mundo dos seus sentimentos pessoais. Estão em conflito e reagem de modo nem sempre adequado ante aquilo que lhes constitui ameaça, deixando clara a complexidade da alma humana que, para ser entendida em suas ações e reações, solicita-nos ampliada complacência e largo discernimento.
Quem analisa um orador, um médium, um dirigente, um tarefeiro iluminado com as luzes da cultura espírita se , enquanto em suas movimentações doutrinárias, não imagina a dor íntima que atinge muitos deles na esfera de suas provas silenciosas no reino do coração. Solidão, abandono, conflitos, medo, frustrações, impotência e outros tantos sentimentos estruturam um dilacerante estado de instabilidade e vulnerabilidade, que retratam velhas feridas evolutivas da alma.
Neste momento de tormentas atrozes e de frustrações sem fim, conclamemos o valoroso movimento em torno das idéias espíritas ao serviço inadiável de incentivar o fortalecimento da estima e do valor pessoal. A casa espírita, como avançado núcleo de enfermagem moral, necessita ser o local da educação para que o homem se livre de suas ilusões e promova-se, definitivamente, a legatário de sua Herança Cósmica.
Imperioso que os dirigentes tenham lucidez, porque essa missão somente será cumprida com acolhimento fraternal, estímulo à autonomia, tolerância com os limites alheios e tempo.
Decerto, a idolatria e a purpurina da lisonja são indispensáveis. O privilégio e a exaltação são incoerentes com o espírito da espontaneidade. O Espiritismo, convenhamos, combate a atitude egoísta proposital, exclusivista, mas não propõe a morte dos valores individuais que podem e devem fazer parte da comunidade como fator gerador de bênçãos, alegrias e exemplo estimulador. O receio do estrelato e das manifestações individualistas tem culminado em autênticas "fobias éticas", que não educam nossas tendências. A luz foi feita para iluminar, brilhar.

E ninguém, acendendo uma candeia, a cobre com algum vaso, ou a põe debaixo da cama; mas põe-na no velador, para que os que entram vejam a luz. (Lucas 8:16).

Olhemos uns pelos outros com olhos de ver. Muita vez onde supomos existir um doente pertinaz em busca de realce, encontra-se um coração ferido e cansado, confuso e amedrontado mendigando amizade autêntica e compreensão. Possivelmente quando sentir a força do amor que lhes votamos será tocado. Sentindo-se amado, pouco a pouco, terá motivos para abandonar as expressões de inferioridade que lhe tortura. Por fim, descobrirá o quanto somos amados, incondicionalmente, pelo Criador que, em Sua Generosidade Excelsa, nos aguarda no espírito glorioso de Filhos de Sua Obra.

ESCUTANDO SENTIMENTOS
A ATITUDE DE AMAR-NOS COMO MERECEMOS
WANDERLEY S. DE OLIVEIRA
Pelo Espírito ERMANCE DUFAUX

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