segunda-feira, 9 de agosto de 2010

CRIANÇAS ÍNDIGOS

Faz sucesso e tem recebido apreciações elogiosas no próprio meio espírita o livro Crianças Índigo, de Lee Carroll e Jan Tober, escritores americanos. As crianças índigo, ou azuis, seriam, segundo os autores, uma geração de Espíritos enviados por Deus, com a missão de renovar as relações humanas, em novos padrões de comportamento, sob a égide do amor. O nome índigo foi cunhado por Nancy Ann Tappe, que, aparentemente dotada de visão mediúnica, observava essas crianças envolvidas por uma aura azul. Sua primeira experiência nesse sentido teria ocorrido na década de 70, no século passado. Pesquisadores americanos, aderindo à idéia, identificam crianças índigo por um padrão de comportamento. Aí é que a tese fica comprometida, porquanto alguns detalhes não são nada animadores nem lisonjeiros, contrariando noções relacionadas com o que se espera de alguém vinculado a um movimento de renovação da Humanidade.

1 – O tema é, realmente, interessante, já que o próprio Espiritismo nos fala de um processo de renovação da Humanidade, com a vinda de Espíritos mais evoluídos. Por que você acha que essas chamadas crianças índigo não têm nada a ver com essa renovação?
É fácil. Basta observar algumas características dessas crianças, citadas no livro:
• Sentem-se e agem como nobres.
Essa postura está mais perto do orgulho do que da humildade que caracteriza os Espíritos que exercem verdadeira influência para o bem da Humanidade. Conscientes da própria pequenez, jamais se julgam mais importantes ou especiais diante do próximo.
Marcante em seu comportamento é a disposição de servir, como destaca Jesus (Marcos, 9:35):
... Se alguém quiser ser o primeiro, será o último e servo de todos.

• Tem dificuldade para lidar com autoridades absolutas (sem explicação ou possibilidade de questionamento).
A definição para essa maneira de ser é rebeldia. Passa longe da ação missionária. Os Espíritos superiores não desrespeitam as leis, embora possam contestá-las, empenhando-se em reformá-las.
O respeito às regras instituídas e aos desígnios divinos está perfeitamente caracterizado na recomendação de Jesus (Mateus, 22:21):
… Dai a César o que é de César, a Deus o que é de Deus.

• Parecem não se relacionar bem com pessoa alguma que não lhes seja igual. A escola normalmente é uma experiência difícil para eles, em termos sociais.
Sem sociabilidade um Espírito pode pontificar nas Artes, na Filosofia, na Ciência, mas jamais realizará algo de produtivo em se tratando de influenciar o comportamento humano, em favor de um mundo melhor.
Jesus revela a fórmula ideal de um relacionamento social perfeito. (Mateus, 22:39):
… amarás o teu próximo como a ti mesmo.

• Frustram-se com sistemas ou tarefas que seguem rotinas ou situações repetitivas em que não possam usar a criatividade.
A vida é feita de rotinas em todos os setores da atividade humana e, sem a disciplina necessária para observá-las, fica difícil sustentar alguma estabilidade e contribuir para a melhoria das condições de vida na Terra.
Oportuno lembrar que a condição essencial enfatizada por Emmanuel, o mentor espiritual de Chico Xavier, para que a sua existência e particularmente a prática mediúnica fossem produtivas, foi a disciplina.
A indisciplina é própria da imaturidade humana, superada pelo crescimento emocional e espiritual, como destaca Paulo (I Coríntios, 13:11):

Quando eu era menino, falava como menino, pensava como menino, raciocinava como menino. Mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

2 – Consta que há uma entrevista de Nancy Ann Tappe, cujo conteúdo é comprometedor para as crianças índigo.
Eu diria que tem um conteúdo estarrecedor. Diz ela: Todas as crianças que mataram colegas da escola, ou os próprios pais com as quais pude ter contato, eram índigo.
O entrevistador parece concordar com ela:
Isso é interessante. Todas essas crianças que matam são índigos? Isso quer dizer que eles tinham uma visão clara de sua missão, mas algo entrou em seu caminho e elas quiseram se livrar do que imaginavam ser o obstáculo?
Resposta de Nancy: Trata-se de um novo conceito de sobrevivência. Todos nós possuíamos esse tipo de pensamento macabro quando crianças, mas tínhamos medo de colocá-lo em prática. Já os índigos não têm esse tipo de medo.

3 – É realmente incrível! Segundo a entrevistada, você, como eu e toda gente, quando crianças, tínhamos o impulso de matar quem se nos opusesse, e não o fizemos por medo.
Exatamente. E o índigo não tem medo. Por isso não se constrange em matar, sejam pais ou colegas de escola. É uma lástima que haja gente aceitando essa insânia.
Segundo os autores do livro e pesquisadores citados, as crianças índigo costumam, não raro, ser rotuladas como portadoras de um dos dois problemas abaixo:
• DDA, Distúrbio de Deficiência de Atenção.
• TDAH, Transtorno de Deficiência de Atenção com Hiperatividade.
Crianças com deficiência de atenção têm dificuldade de concentração.

4 – Pelo que se sabe Crianças com defeito de atenção e hiperatividade, não param quietas, têm “bicho carpinteiro”, como diriam os pais. Seriam crianças problema, não crianças missionárias.
Exatamente. Isso dá para perceber, considerando algumas características, envolvendo esses dois déficits.
• Tem dificuldade em assistir uma aula, ler um livro, ouvir uma palestra. Comete erros por falta de atenção a detalhes.
• É desorganizado, tanto no pensamento como externamente, envolvendo horários, arrumação de objetos de uso pessoal, cumprimento de prazos, disciplina...
• Muda com facilidade de metas e planos. É comum ter mais de um casamento ou relacionamento estável.
Diz Nancy: Pelo que pude observar, 90% das crianças com menos de dez anos no mundo de hoje pertencem à categoria índigo.

5 – Dando crédito à sua estatística estará explicada a conturbação no Mundo, a dificuldade de relacionamento no lar, a indisciplina, os vícios, os crimes, o descalabro da sociedade…
E há no livro muitos exemplos desse tipo.
Crianças índigo que deram trabalho na infância e na adolescência e nenhum registro de alguma que pontificou na idade adulta como pioneiro de um mundo melhor.

6 – Ao que parece, analisando o assunto à luz da Doutrina Espírita, é que as crianças índigo são Espíritos dotados de alguma intelectualidade, mas com um descompasso entre a evolução mental e precário desenvolvimento moral.
Exatamente. Não constituem novidade. Desde sempre tivemos no Mundo gente assim. Espíritos que reencarnam com uma grande missão, não em relação à Humanidade, mas a si mesmos: a missão de se renovarem, de superarem suas mazelas e imperfeições, o que, de resto, é a finalidade precípua da existência humana.
A maior parte do conteúdo de Crianças Índigo relaciona-se com orientações para cuidar delas. Diga-se de passagem, são úteis no cuidado de qualquer criança. Liberdade vigiada, diálogo, tolerância e muito amor.
Richard Simonetti
http://www.richardsimonetti.com.br/pinga_fogo/indigos.htm

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