Diante de alguns atos, sentimos um mal-estar sem fundamento lógico. É a sensação do pecado, logo da culpa.
Não estou falando dos crimes, das ações imorais. Estas, pela lógica, você chega à conclusão de que são erradas e repreensíveis. Falo dos atos naturais, que são tidos como pecaminosos e imorais.
Comer uma torta de morango para alguns é pecado. Gastar dinheiro em lazer, questionar autoridades, fazer sexo, jogar futebol, dizer “não”... para muitos é pecado. Aí surge o problema, pois (quase) todos fazem essas coisas “pecaminosas” e naturalmente se sentem culpados.
Nunca serão bons, pois os bons são os que se privam disso tudo. Logo não merecem o céu, os planos superiores, a felicidade...
A partir daí surge o masoquismo, pois as pessoas que alimentam a culpa só se sentem bem realmente quando sofrem. O sofrimento é uma espécie de redenção... de purificação. A consciência se tranqüiliza. “Sofro para purgar.”
Mas quem a pôs aqui dentro?
Eram dois sócios. Pela madrugada um deles jogava, nas portas e paredes das casas de uma cidadezinha, uma substância imunda e corrosiva. Após feita a maldade, ele ia embora.
Quando os moradores despertavam, viam aquela sujeira em suas portas e janelas e se perguntavam: como limpar isso? Nada parece funcionar.
Nisso chegava um dos sócios e dizia: “Para essa substância tenho uma fórmula milagrosa. Fiquem tranquilos, basta me contratarem”.
Todos contratavam seus serviços e ficavam satisfeitos.
Essa história, Osho utiliza para ilustrar um fato milenar: os sacerdotes de diversas religiões inculcam o mal da culpa na mente dos fiéis para depois apresentarem-se como os portadores do remédio.
A culpa, o medo, o risco da possessão diabólica... são armas utilizadas até hoje na busca de fiéis.
Os que deveriam libertar consciências acabam por fazer de tudo para aprisioná-las.
Poucas coisas aprisionam mais que o sentimento de culpa.
Reconstruindo o conceito de culpa
Chamamos de culpa a responsabilidade diante de nossos atos.
Agora, quando falo “sou culpado”, estou dizendo: “sou responsável”.
Desta forma as coisas ficam mais tranqüilas.... Não vou mais arder eternamente no fogo do inferno, ou estacionar a vida por que errei.
Tenho que saber onde errei e procurar corrigir meu erros.
Ser responsável é saber que todas as ações realizadas por nós nos dizem respeito. Não podemos responsabilizar os outros por nossas decisões e atos.
Somos seres livres.
Se somos livres para fazer, obviamente devemos compreender que as reações obtidas com nossos atos estarão conosco.
No universo existe a lei de ação e reação e, conforme disse Jesus, cada um recebe segundo suas obras.
Se comemos demais a digestão é ruim. Se comemos de menos enfraquecemos. Se ficamos expostos ao sol de meio dia, sem filtro solar, nos queimamos. Se não estudamos para os testes não somos aprovados. Se alimentamos a raiva, surge o mal estar, dores no peito, queimação no estômago, problemas de toda ordem...
Ação e reação. Culpa e castigo.
Quem é o culpado?
Ser culpado, ou seja, responsável por “um falso movimento da alma”, significa ser responsável por agir contra a ordem universal... contra a harmonia. O belo e o bem geram a ordem. O feio e o erro a desordem.
Que é o castigo?
“A conseqüência natural, derivada desse falso movimento; uma certa soma de dores necessária a desgostá-lo da sua deformidade, pela experimentação do sofrimento. O castigo é o aguilhão que estimula a alma, pela amargura, a se dobrar sobre si mesma e a buscar o porto de salvação. O castigo só tem por fim a reabilitação, a redenção.”Sofrer um castigo é “uma certa soma de dores”. Não somente a dor de barriga, ou a dor de cabeça. Todas as conseqüências de nossos atos perturbadores é o que chamamos de “castigo”.
E não é um castigo eterno. Pois nenhum erro é eterno.
O sábio toma consciência da vida, entendendo os mecanismos da dor, fazendo de tudo para evitá-la. Eis o bom exercício da liberdade e da responsabilidade.
O Consolador
(Sobre o item 1009 d´O Livro dos Espíritos)
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