quinta-feira, 22 de julho de 2010

MISÉRIA E RIQUEZA


Sendo o propósito da vida o aperfeiçoamento intelectual e moral do ser, que condições, que meios nos conviriam melhor para realizá-lo?
A riqueza proporciona ao homem, meios de estudo poderosos; permite-lhe dar ao seu espírito uma cultura mais desenvolvida e mais perfeita; coloca em suas mãos facilidades maiores para aliviar seus irmãos infelizes, participando por meio de fundações de utilidade pública, visando o melhoramento de seus destinos. Mas são raros os que consideram como um dever trabalhar no alívio da miséria, na instrução e melhoria de seus semelhantes.
A riqueza, frequentemente, seca o coração humano; extingue essa chama interior, esse amor ao progresso e às melhorias sociais que anima toda alma generosa; ergue uma barreira entre os poderosos e os humildes; leva a viver em um meio onde não se alcança os deserdados desse mundo e onde, por consequência, suas necessidades e males permanecem quase sempre ignorados e desconhecidos.
A miséria também tem seus pavorosos perigos: a degradação dos caráteres, o desespero, o suicídio. Mas, enquanto a riqueza nos torna indiferentes e egoístas, a pobreza, ao nos aproximar dos humildes, nos faz compartilhar a dor. É preciso ter sofrido, por si mesmo, para apreciar os sofrimentos do outro. Enquanto os poderosos, no seio dos honrados, invejam-se e procuram rivalizar em brilho, os pequenos, aproximados pela necessidade, vivem, por vezes, em tocante confraternização.
Observem as aves de nossa região durante os meses de inverno, quando o céu está sombrio, quando a terra está coberta de um manto branco de neve; apertados uns contra os outros, na borda de um telhado, aquecem-se mutuamente em silêncio. A necessidade os une. Mas vêm os belos dias, o sol resplandecente, a provisão abundante, e eles chilreiam, perseguem-se, combatem-se, dilaceram-se. Assim é o homem. Doce, afetuoso com seus semelhantes nos dias de tristeza, a posse de bens materiais o torna, muito frequentemente, esquecido e duro.
Uma condição modesta convém melhor ao espírito desejoso de progredir, de adquirir as virtudes necessárias à sua ascensão moral. Longe do turbilhão dos prazeres enganadores, aquilatará melhor a vida. Solicitará da matéria o que é necessário à conservação de seu organismo, mas evitará cair nos hábitos perniciosos, tornar-se presa das inumeráveis necessidades fictícias que são os flagelos da humanidade. Será sóbrio e trabalhador, contentando-se com pouco, ligando-se, acima de tudo, aos prazeres da inteligência e às jóias do coração.


O PORQUÊ DA VIDA
Léon Denis

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