sábado, 20 de fevereiro de 2010

Conto: A oração atendida

Um judeu ortodoxo, muitissímo fervoroso, vivera toda uma vida de dignidade e equilíbrio. Agora perto da morte queria se isolar e procurar a perfeita comunhão com Deus.Se despediu da família e se isolou numa colina.Dias e dias correrram, Os ventos se transformaram nas nevadas prenunciando a entrada do inverno.E o velhinho seguia rezando:
-Oh! Senhor, Deus de Israel, Deus dos meus antepassados, mais um inverno em minha vida longa....Ai senhor....aspiro vir Tua palavra direta! Fala a mim, este teu serve pequenino, porém fiel.
Enquanto orava viu que o cão seu único companheiro naquele ermo, latia agitadamente.
Levantou com dificuldade. Quem seria? Tinha dado ordens expressas aos seus. Que não queria ser importunado nas suas orações. Abriu a porta e reconheceu o rosto da mulher, não só porque era muito bela, mas porque era uma prostituta da cidade muito conhecida!
Seu primeiro pensamento: que era isto? Clamara por Deus e lhe mandavam satanás?
- não me batas a tua porta, sei que és um homem bom. Ela estava de joelho e entrou a soluçar comovedoramente.
-mas ....mas...o que deseja de mim a senhora?
A mulher levantou os olhos azuis que luziam atrás das lágrimas, e mostrou-lhes as mãos e os braços. Ele conhecia aquelas horríveis e asquerosas lesões. Era o castigo! Era a sífilis!
-Eu lhe imploro, deixa-me ficar expulsaram-me da cidade, ninguém me quer, atiçam os cães contra mim, atiram-me pedras....
-não teria procurado por isto menina? Porque deixaste o caminho do Senhor?
-Ele não me procurou. Eu não O conheço.Ninguém falou Dele. Mas agora eu estou pedindo a Ele que fale comigo.Vou morrer! chegou a hora de encontrá-lo, De estar mais perto Dele. Não acha?
O velho judeu não queria deixar que aquela fraqueza o dominasse, mas a compaixão o espreitava de todos os lados e por fim ela o venceu. Fez entrar a pobrezinha, tinha febre alta, e logo se viu acolhida na cabana, deitou-se para não mais levantar.
Empenhou-se em cuidar dela para espantar a morte que a rondava, tentando fazê-la tomar o chá.Esqueceu completamente quem era ela. Como se fosse uma filha, assim a cuidava.
numa tarde, enquanto pegava lenha para queimar para preparar a sopa, escutou a voz fraca o chamando. E foi logo para perto dela que lhe tomou as mãos. Ele adivinhou que a hora chegara, não pode evitar as lágrimas, apertou as mãos delas entre as suas, ajudando-a a morrer. E depois cerrando-lhe os olhos , colocou-se de joelho e recitou para ela o Kadish(oração dos mortos para os judeus). Então sentiu-se envolvido por uma grande luz e dentro dela uma voz profunda e maravilhosa fez-se ouvir:
-meu bem amado, Chamaste-me? eu vim. Obrigado por me receberes, por não me julgares, por me ajudares a morrer.
Os corpos do velho e da prostituta foram encontrados lado a lado. E não faltou quem se risse do propósito "religioso" do velho judeu.

conto extraído do livro: sentimentos e conflitos
psicografia de Grace Khawali
espíritos léon Tolstoi, Carl e outros.
ed.Mythos books

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