Você nos pergunta, em carta,
Meu caro Alfeu Segismundo,
Como encontrar alegria
Nas graves provas do mundo.
E continua afirmando:
_ "Cornélio, o que diz você?
Tanta lágrima na Terra,
Não sei explicar porquê...
Basta ler, ouvir e ver,
Nos campos de informação,
E a gente sofre pensando
Em tanta tribulação.
É guerra que não se acaba,
É desespero alastrando,
É clima destemperado,
Calamidades em bando...
É tromba d'água caindo,
Geada, seca, maré...
Amargura e insegurança
Surgem na falta de fé.
É desastre, a toda hora,
É murro de força bruta...
De que modo ser feliz
Em meio de tanta luta?"
digo, porém, caro amigo,
Que a Terra foi sempre assim:
_ A escola que sempre educa,
Tanto a você, quanto a mim.
Você sabe: o educandário
Em que a gente se renova
Reclama trabalho, esforço,
Lição, disciplina e prova...
Mas se quer felicidade,
Medite, prezado Alfeu,
Nas cousas boas da vida
Que você já recebeu.
Pense nas almas queridas
Que o situaram no bem,
Nos recursos que o protegem,
Nas amizades que tem.
Olhe o poder que possui
De buscar o que lhe agrade,
Você consegue mover-se,
Conforme a própria vontade.
Lembre o sono que desfruta,
A mesa que o reconforta,
A fonte jorrando em casa,
O pão que lhe vem à porta.
Recorde a sombra vencida
Pelos dons da luz acesa,
Os recursos do progresso
E as bênçãos da natureza.
Medite nos animais
Que sofrem no dia-a-dia,
Para que o prato lhe seja
Um transmissor de alegria.
Pense nos dias tranqüilos
De estudo, de calma e prece,
Nas horas somente suas
Em que ninguém lhe aborrece.
Então, você notará,
De atenção célere e pronta,
Que os benefícios da Terra
São benefícios sem conta.
Em síntese, caro amigo,
No mundo, a gente, a meu ver,
Muito pouco sofreria
Se soubesse agradecer.
Se você quer progredir
Na luz que Deus nos consente,
Esqueça a conversa mole,
Largue a queixa e siga em frente.
Cornélio Pires
Baú de Casos
Chico Xavier
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